29/06/2020
Os altos índices de informalidade e ausência de direitos trabalhistas que atingem os trabalhadores em todo o mundo, com destaque para o Brasil, não são resultados da pandemia da covid-19.
Leia e assista a entrevista realizada por Lu Sudré com o sociólogo Ricardo Antunes, publicada no portal Brasil de Fato e no site IHU – Instituto Humanitas Unisinos.
Segundo o sociólogo Ricardo Antunes, as graves consequências do novo coronavírus são resultados da combinação letal entre a crise estrutural do capitalismo, que destrói sistematicamente a legislação social protetora do trabalho, e uma crise sociopolítica sem precedentes.
Em entrevista ao Brasil de Fato, o autor do e-book Coronavírus: O trabalho sob fogo cruzado, lançado recentemente pela Boitempo, define o atual cenário vivido pelo trabalhador brasileiro como “o celeiro da tragédia”.
Além dos 12,8 milhões de desempregados, o país conta com um contingente massivo da população sem acesso à renda e sobrevivendo sob a ameaça da fome. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de trabalhadores que ficaram sem remuneração durante a pandemia em maio chegou a 9,7 milhões.
Antunes destaca que quando o coronavírus eclodiu, a informalidade já atingia 40% da classe trabalhadora. Hoje, com a necessária paralisação das atividades econômicas e sem apoio do Estado, grande parte deste contingente está desempregado.
“Um trabalhador ou trabalhadora na informalidade, se vai pra casa fazer isolamento, não recebe. Inclusive a maioria sofreu com o desemprego imediato. Se vai pra casa, morre de fome. Se vai para a rua, seu emprego desapareceu. A pandemia do capital mostrou o flagelo, a virulência, a devastação, que o capitalismo dos nossos dias pratica em relação à classe trabalhadora”, declara o especialista.
Com o crescimento e inovações do chamado “processo de uberização” durante a quarentena, que impôs a informalidade para diferentes categorias, o sociólogo avalia “que os capitais estão usando laboratórios de experimentação para que, no imediato pós-pandemia, ele sejam implementados”.
Esse processo só não irá se expandir, segundo Antunes – que também é professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) –, se houver um processo de luta, e confrontação da classe trabalhadora.
A paralisação convocada pelos entregadores de aplicativos para a próxima quarta-feira (1º), para o sociólogo, será um grande exemplo dessa resistência.
“Não foi a pandemia que trouxe a tragédia. Ela é o resultado de uma tragédia de um sistema de metabolismo social destrutivo. Por isso falo em capitalismo pandêmico e virótico. Estamos vivendo um capitalismo letal, destrutivo, pandêmico e virótico”, ressalta o sociólogo.
Clique no link abaixo, para ter acesso ao vídeo com Ricardo Antunes e à entrevista publicada pelo site Brasil de Fato.