Cotidiano
Neste 11 de setembro, Dia do Cerrado, o bioma clama por socorro

11/09/2024

Reproduzimos, a seguir, reportagem gerada pelo portal da TVT News.

Bioma mais ameaçado do Brasil, o Cerrado tem oito dos dez municípios mais afetados pelo desmatamento.
Com legislação frágil, agressões avançam principalmente na área conhecida como Matopiba

Desmatamento avança sobre Matopiba, uma das áreas mais devastadas do Cerrado – Divulgação/IPAM

Mais da metade de toda a área desmatada no Brasil em 2023 está no Cerrado. Em 38 anos – de 1985 a 2023 – o bioma perdeu 38 milhões de hectares, o que representa uma redução de 27% na vegetação original. Dos dez municípios mais desmatados em 2023, oito estão no Cerrado. Os dados são da plataforma Mapbiomas, que utiliza imagens de satélites para colher informações sobre os biomas brasileiros; e do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).

O desmatamento avança principalmente na área da região nomeada de Matopiba, entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. É nessa região que fica São Desidério (BA), o município mais desmatado do país em 2023, quando perdeu 40.052 hectares de vegetação.

“O Matopiba é uma das áreas que mais tem vegetação nativa no Cerrado, mas é a região mais ameaçada e que está sofrendo um processo muito acelerado de conversão de vegetação nativa em outros usos”, explica Ane Alencar, Diretora de Ciência do Ipam e coordenadora da equipe Cerrado do MapBiomas.

A maior parte das áreas desmatadas no Matopiba é ocupada por pastagens. “Mas tem uma área cada vez mais de plantações, de cultivos agrícolas, principalmente a soja”, ressalta Alencar. Atualmente, 26 milhões de hectares do Cerrado estão ocupados pela agricultura. Desses, 75% são destinados ao cultivo de soja.

A devastação no bioma tem respaldo no Código Florestal, que determina que propriedades privadas no Cerrado preservem pelo menos 20% da vegetação nativa. Outro ponto em favor do desmatamento é a pouca quantidade de territórios protegidos no bioma, como as Unidades de Conservação (UCs), onde há normas mais rigorosas para a exploração do território.

O cenário de devastação, se não for controlado, pode trazer prejuízos até para o agronegócio, como avalia Dhemerson Conciani, pesquisador do Ipam. “Seguir com o desmatamento nesse ritmo trará consequências ainda mais graves para a regulação do clima e para os setores econômicos, principalmente o agronegócio, que depende do clima e dos recursos hídricos no cerrado”, diz.

Os outros municípios com maior área desmatada no bioma em 2023 são: Balsas (MA), Jaborandi (BA), Alto Parnaíba (MA), Baixa Grande do Ribeiro (PI), Rio Sono (TO), Cocos (BA) e Barreiras (BA). Fora do Cerrado, os municípios que entram na lista dos mais desmatados em 2023 são Altamira (PA) e Corumbá (MS).

Em oito meses, fogo no cerrado consumiu área do tamanho da Suíça

Entre janeiro e agosto de 2024, o fogo consumiu 4 milhões de hectares de mata no cerrado brasileiro, sendo 79% de vegetação nativa. Esse valor representa um aumento de 85% em relação ao mesmo período do ano passado, quando 2,2 milhões de hectares foram queimados. Os dados são do Monitor do Fogo, da plataforma Mapbiomas.

Embora o bioma possua tipos de vegetação que evoluíram para lidar com queimadas, o regime natural do fogo tem sido alterado pelas secas frequentes e temperaturas extremas.

“A crescente vulnerabilidade do Cerrado às mudanças climáticas e impactos humanos exige ações decisivas para sua reversão”, avalia Vera Arruda, pesquisadora do Ipam. “É essencial implementar políticas públicas que promovam a conscientização, reforcem sistemas de monitoramento e apliquem leis rigorosamente contra queimadas ilegais”, diz.

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