08/07/2022
Nove sítios arqueológicos foram encontrados em escavações das obras da linha 6-laranja do metrô de São Paulo, prevista para ser entregue em 2025. Esses locais, com vestígios de antigas ocupações humanas na cidade, foram descritos em relatórios da concessionária responsável pela construção.
Os documentos, obtidos pela BBC News Brasil, foram enviados ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), órgão federal que, por lei, é responsável por todos os sítios do Brasil e a quem cabe autorizar a remoção e pesquisa dos objetos.
Nas últimas semanas, a descoberta de uma dessas áreas, no tradicional e turístico bairro do Bixiga, na região central da capital paulista, está mobilizando o movimento negro, historiadores, arqueólogos e moradores. Eles formaram um grupo para acompanhar a retirada dos objetos e reivindicar a preservação da história do local.
Os vestígios – peças de cerâmica e vidro – foram encontrados a três metros de profundidade. Para historiadores e arqueólogos, o sítio está na área do antigo quilombo Saracura, uma das maiorias aglomerações urbanas de resistência do povo negro e que ocupou a região por volta do século 19.
No mesmo terreno, funcionou por décadas a quadra da escola de samba Vai-Vai, fundada em 1930 e maior campeã do Carnaval paulistano, e onde será construída a futura estação 14 Bis da linha 6-laranja, que leva o nome da praça em frente.
Os documentos apontam que outros oito sítios arqueológicos foram encontrados nas escavações ao longo da linha. O ramal, todo subterrâneo, terá 15 estações em 15,3 km de extensão, ligando o bairro da Brasilândia, na Zona Norte, à região da Liberdade, no Centro.
Eles foram descobertos por arqueólogos da empresa A Lasca, contratada pela concessionária Linha Uni, responsável pela construção e operação da linha.
Além do material da estação 14 Bis, outros oito sítios arqueológicos foram identificados no ano passado em bairros como Pompeia e Água Branca, na Zona Oeste da cidade.
Os vestígios estavam enterrados nos terrenos das futuras estações Água Branca (dois pontos), Santa Marina, Freguesia, SESC Pompeia e São Joaquim, além da chamada VSE (Ventilação e Saída de Emergência) Sara de Souza e Tietê – este último, sobre uma falha geológica conhecida como Taxaquara.
A maioria dos vestígios humanos remete ao período da industrialização de São Paulo, da segunda metade do século 19 e início do século 20.
No sítio Sara de Souza, por exemplo, foram resgatados 33.079 objetos e fragmentos, entre louças, cerâmicas, vidros, pratos, garrafas, pedaços de madeira e metal, além de uma estrutura semelhante a uma galeria de água.
Segundo o relatório enviado ao Iphan, os vestígios “se relacionam a sucessivos aterramentos da área realizados a partir de remanescentes do processo produtivo de fábricas de louças, como a Fábrica Santa Catharina e a Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo.”
Em outro sítio, na avenida Santa Marina, também na Água Branca, foram encontrados 1.165 peças arqueológicas, entre louças, vidros, cerâmicas e outros objetos. Segundo relatório da empresa A Lasca, os objetos remetem aos séculos 19 e 20 e provavelmente estão ligados a olarias e a uma antiga fábrica de vidros.
Outros sítios, como o Pompeia e São Joaquim, tinham uma quantidade menor de objetos, principalmente itens típicos de lixeiras domésticas, como garrafas de bebidas, pratos, xícaras e vasos de cerâmica, provavelmente descartados pelos antigos moradores dos bairros.
Com exceção do sítio do quilombo Saracura, os objetos dos outros locais já foram retirados com autorização do Iphan.
Segundo a Linha Uni, todos os milhares de objetos encontrados estão sob a guarda provisória da empresa de arqueologia A Lasca, “pois estão em processo de curadoria, que corresponde à higienização, catalogação e análise, a partir da qual será produzido relatório complementar”.
Depois desse processo, diz a Linha Uni, o material será encaminhado ao Centro de Arqueologia de São Paulo, órgão da Prefeitura.
Para ler a íntegra, na página da BBC, acesse o link abaixo.
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62059406