Covid-19: diretor do Butantan prevê vacinação lenta até setembro no Brasil

13/05/2021

Transcrevemos a seguir, reportagem publicada no portal da BBC Brasil. 

Como diretor do Instituto Butantan desde 2017, Dimas Covas sempre precisou aliar o conhecimento técnico e científico com as particularidades do mundo político que, na visão dele, não parecem seguir uma lógica.

E essa necessidade se ampliou numa escala inimaginável durante a pandemia de covid-19: a corrida por vacinas capazes de frear o coronavírus exigiu muito jogo de cintura e garantiu fortes emoções entre o final de 2020 e o início de 2021.

Uma das personagens que mais ganharam os holofotes nesta história foi a CoronaVac, imunizante desenvolvido pela farmacêutica chinesa Sinovac e testada no Brasil pelo Instituto Butantan, com a coordenação de Covas e sua equipe.

Após passar por todas as etapas de pesquisa clínica, a vacina foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em janeiro de 2021 e hoje responde por mais de 70% de todas as doses que foram aplicadas até o momento na campanha brasileira contra a covid-19.

Mas o atraso na entrega de novos lotes de matéria-prima deve paralisar completamente a produção até amanhã (14/05): o Instituto Butantan está aguardando a chegada de 10 mil litros do insumo farmacêutico ativo (IFA), que está na China.

Em falas recentes, o governador de São Paulo, João Doria, atribui essa demora na liberação do produto às constantes falas do presidente Jair Bolsonaro, que faz acusações infundadas sobre a origem do coronavírus e o papel do país asiático nisso.

Covas, que é especialista em hematologia e professor titular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, concedeu uma entrevista exclusiva à BBC News Brasil um dia antes das primeiras notícias sobre a paralisação da produção no Butantan e avaliou que o país ainda demorará alguns meses para conseguir avançar na proteção dos brasileiros.

O especialista acredita que “até julho, enfrentaremos muitas dificuldades”, causadas pela falta de insumos para a produção de doses.

A situação pode até melhorar a partir do último trimestre de 2021, quando as fábricas nacionais terão mais material para trabalhar e os fornecedores externos, como Pfizer e Johnson & Johnson, prometem entregar lotes maiores de suas vacinas.

Ainda na visão de Covas, isso se deve ao fato de o Brasil ter iniciado seu planejamento “muito tardiamente” e com “ações muitos tímidas”.

“Se as primeiras ofertas que nos foram feitas tivessem sido levadas em conta, em dezembro de 2020 já poderíamos ter iniciado a vacinação no país. No entanto, isso não ocorreu”, lembra.

O diretor do Butantan também confirma a dificuldade em lidar com os chineses após as declarações recentes do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e do ministro da Economia, Paulo Guedes, que fizeram acusações sobre a suposta origem do vírus no país asiático.

“Nós que estamos na ponta, lidando diretamente com eles, enfrentamos muitas dificuldades. Em termos práticos, um documento que poderia ser assinado e autorizado em questão de dez ou quinze dias, que seria um tempo aceitável, demora muito mais e passa por todo um problema burocrático. Nós sentimos na pele essa dificuldade de trazer os insumos. Enquanto isso, outros países que também usam a CoronaVac, como é o caso do Chile, não enfrentam esses mesmos problemas”, compara.

Para conferir os principais trechos da entrevista concedidas pelo diretor do Instituto Butantan à BBC, acesse o link abaixo:

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-57095706

Imprimir
WhatsApp
Copy link