“Eu cheguei a dar aula para 14 turmas em 2019”, conta o professor. “Depois caiu para 5.”
E dados oficiais confirmam a impressão de Moraes sobre o esvaziamento de colégios privados: segundo o Censo Escolar 2021, o número de estudantes matriculados em escolas particulares no Brasil caiu 10%, ou quase um milhão de estudantes, entre 2019 e 2021.
Êxodo de escolas privadas
A surpreendente queda interrompeu uma sequência histórica de crescimento no número de alunos em colégios privados.
No mesmo período, 2019 a 2021, a rede pública teve redução bem menor no número de alunos: 0,5%.
“O empobrecimento das famílias, principalmente neste caso o da classe média, impacta diretamente nos diversos tipos de serviço, e no serviço de educação isso é bastante significativo”, avalia Fausto Augusto Junior, diretor-técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Para o especialista, os números do censo escolar sugerem uma transferência de estudantes entre as redes particular e pública — resultado da crise econômica (aumento de mensalidades e do custo de vida em geral) e agravada pela pandemia.
“A classe média está sendo bastante atingida por conta da inflação e da taxa de desemprego, o que tem a ver com essa saída de alunos da rede privada para a rede pública. Isso tem a ver com empobrecimento”, diz.
É o caso de Lidiane Rosa, do Rio Grande do Sul.
“Eu tirei a minha filha da escola privada causa dos custos, estava muito caro e não tinha mais como bancar escola particular. Ela estava no primeiro ano do ensino fundamental e eu tinha que comprar muitos livros”, ela diz à BBC News Brasil.
A economia no caso de Rosa foi além do ensino. “Na escola pública, ela aprendeu muito mais. Na escola particular, eles não tinham nenhuma refeição. Na pública, eles almoçam e tomam café da tarde.”