Bancários protestam contra a política de juros altos do Banco Central

14/02/2023

Reproduzimos, a seguir, informação publicada no site do Sindicato dos Bancários do Ceará…

O Sindicato dos Bancários do Ceará convoca a todos, bancários e sociedade em geral, para um grande ato contra a alta taxa de juros praticada no país. A mobilização acontece nesta terça-feira, 14/2, a partir das 9h, em frente ao Banco Central em Fortaleza (Av. Heráclito Graça, 273 – Centro). Às 11h, teremos um tuitaço com a hashtag #JurosBaixosJá. Os protestos vão acontecer em várias localidades do Brasil e são organizados pelo Comando Nacional dos Bancários.

A fala crítica do presidente Lula à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, de manter a taxa básica de juros no patamar elevado de 13,75% ao ano segue repercutindo no mercado e na imprensa. O presidente da República chamou de “vergonha” o percentual que coloca a Selic no seu maior nível desde janeiro de 2017.

“Não podemos continuar com um Banco Central que serve aos interesses dos rentistas do mercado financeiro, dos ricos que usam seus recursos para comprar títulos e viver de especulação”, pondera a presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira. “O atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, fez campanha para o governo Bolsonaro e estava em grupos de WhatsApp dos ministros do ex-presidente. Ele continua fazendo a política econômica de Paulo Guedes. Deveria pedir demissão”, completa a dirigente.

Além de manter juros que prejudicam o desempenho da economia, Campos Neto admitiu, em nota oficial divulgada no final de janeiro, erro de cálculo de R$ 14,5 bilhões no mercado de câmbio, entre outubro de 2021 e dezembro de 2022. Essa distorção favorecia o ex-governo Bolsonaro, já que passava ideia de melhora no desempenho do país. “O Banco Central tem que cuidar da inflação e do emprego. Não é função dele cuidar da política fiscal, essa sim, função do governo”, observa Juvandia.

Entenda: taxa de juros altas não reduz inflação

Com a taxa básica de juros nesse patamar, o juro real no Brasil alcança 7,38%, o que mantém o país com o maior nível do mundo, na frente de México (taxa de 5,53%), Chile (4,71%) e Colômbia (3,04%), respectivamente, segundo, terceiro e quarto colocados em ranking que leva em conta juros de 40 países. Apesar de o regime de metas da inflação ser um instrumento adotado há décadas pelo Brasil para ajudar a conter a inflação e a alta do dólar, os juros em níveis altos tornam o investimento produtivo menos viável e desestimula o consumo, por forçar o aumento das taxas em todo o sistema bancário.

“Isso acontece porque a Selic é um dos componentes que influenciam no custo de crédito no país e, consequentemente, no comportamento dos consumidores e das empresas. Então, no caso de alta da Selic, os efeitos são de retração do consumo e, com isso, espera-se uma queda da inflação. Mas nem toda inflação se deve a consumo elevado. Pelo contrário, a recente inflação brasileira estava relacionada à política de preços dos combustíveis e questões externas como a Guerra da Ucrânia e questões climáticas. A alta da Selic, nesse caso, não é capaz de conter a inflação, mas segue tendo efeitos perversos na economia, no crédito, na renda e no emprego”, explica o economista do Diesse, Gustavo Carvazan.

Portanto, os juros em alta funcionam como âncora à economia em geral. Enquanto os juros em queda estimulam o aquecimento da economia, porque o crédito fica mais barato, tanto para empresas quanto para os consumidores, o que favorece as vendas das empresas, gerando mais empregos e arrecadação para o Estado.

Você deve estar se perguntando, então, qual é a razão de boa parte do mercado e da grande imprensa reagir negativamente à fala do presidente Lula. A resposta é porque a alta da Selic favorece todas as modalidades de investimentos classificadas como renda fixa, como os títulos públicos. Vale lembrar que os maiores detentores da dívida pública são justamente as instituições financeiras atuantes no país.

“O BC deve servir aos interesses do povo, à criação e manutenção de emprego. Mas, o que temos observado, é que o Banco Central não tem autonomia em relação ao mercado financeiro, quando pratica juros básicos tão altos. Então, defendemos, sim, um BC com autonomia e que, de verdade, colabore, em suas decisões, para o desenvolvimento do país”, pontua Juvandia.

Independência para quê?

Juvandia lembra que a maioria das grandes economias não adota a política de juros altos. “Nos Estados Unidos, por exemplo, a taxa básica de juros costuma não superar 2% ao ano. No bloco europeu, o Banco Central da região dificilmente, também, aumenta a taxa básica para muito além desse patamar”, pontua.

Ela destaca ainda, que, ao longo do governo Bolsonaro, a elevação da Selic, além de ter colaborado para a recessão e desemprego, não foi capaz de conter a inflação. E, apesar de ter furado o teto de gastos em R$ 795 bilhões, o ex-presidente não chegou a ser tão atacado pela imprensa e o mercado, como, atualmente, tem sido Lula.

“O BC tem que ser sim independente, independente dos banqueiros e dos rentistas e não dos interesses do povo. Enquanto o presidente da República propõe uma política econômica para gerar emprego e renda, o Banco Central faz uma política econômica contrária”, conclui a presidenta da Contraf-CUT.

Fonte: SEEB/CE, com informações da Contraf-CUT

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