18/02/2022
O ano de 2021 ficou marcado na história do país como o mais mortal da pandemia. Mais de 424 mil pessoas morreram de covid-19, doença que forçou brasileiros a entrarem em isolamento social e deteriorou indicadores da economia do país.
O ano passado, entretanto, também foi um período de lucros recordes para bancos. Só as quatro maiores instituições financeiras com ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo –Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander– lucraram juntas R$ 81,6 bilhões.
O valor é o maior já registrado pela empresa Economatica, que acompanha os resultados contábeis dessas instituições financeiras há 15 anos.
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Dados tabulados pela Ecomatica apontam que o lucro somado dos quatro grandes bancos cresceu 32,5% de 2020 para 2021. Já de novembro de 2020 a novembro de 2021, a renda do trabalhador caiu 11,4%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), realizada pelo instituto, o trabalhador brasileiro recebia R$ 2.444 por mês até novembro de 2021. Esse é o menor valor já registrado pelo IBGE, que levanta o dado desde 2012.
Recordes individuais
Dos quatro bancos listados no estudo da Economatica, três deles –Banco do Brasil, Bradesco e Itaú– tiveram lucros individuais recordes.
O Itaú, maior banco do país, foi também o que mais lucrou em 2021: R$ 26,9 bilhões, já descontados os impostos. O maior lucro da história da empresa é 45% maior do que o registrado por ela mesma em 2020.
O Bradesco lucrou R$ 26,2 bilhões em 2021, 34,7% a mais que em 2020. Já o Banco do Brasil, controlado pelo governo, lucrou R$ 21 bilhões, 51,4% a mais do que no ano anterior.
“O bom desempenho é explicado por menores despesas com provisões de crédito (-40,2%), crescimento da carteira de crédito, incremento nas receitas de prestação de serviços e na margem financeira bruta”, declarou o Banco do Brasil, no comunicado a respeito do seu lucro recorde de 2021.
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A professora do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Simone Deos, explicou que as provisões de crédito são uma espécie de previsão de perda por inadimplência que os bancos contabilizam em seus balanços.
Ela disse que, com o início da pandemia, em 2020, as instituições financeiras aumentaram essas provisões avaliando que o risco de inadimplência havia subido. Em 2021, elas entenderam que esse risco caiu. As previsões de perda, portanto, foram reduzidas e o lucro dos bancos cresceu de um para outro.
Juros ajudam
Segundo Deos, no entanto, só isso não explica um lucro tão alto dos bancos brasileiros –fora dos padrões internacionais do sistema bancário mundial, disse ela. A professora afirmou que o aumento da taxa básica de juros da economia, a Selic, também colaborou bastante com os resultados dos bancos em 2021.
Até março de 2021, a Selic era 2% ao ano. Em dezembro, ela já estava em 9,75% ao ano. Hoje, é 10,75% ao ano.
Como essa taxa serve de base para os juros da economia real, bancos também aumentaram os juros dos empréstimos que concederam a pessoas e empresas. Com isso, passaram a ganhar mais com cada operação. Por isso também, eles lucraram mais.
“Não é à toa que o ‘mercado’, representado pelos economistas de bancos, sempre indica que se aumente a taxa de juros para dar conta da inflação”, ressaltou a professora. “É uma advocacia em causa própria.”
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Simone lembrou que, historicamente, bancos brasileiros cobram juros bem mais altos do que a Selic. Enquanto a taxa Selic é de 10,75% ao ano, os juros de um empréstimo é cerca de dez vezes isso.
Pesquisa realizada neste mês pelo Procon-SP, indica que os juros médios de um empréstimo pessoal em bancos comerciais são de 115,20% ao ano. Já os juros médios do rotativo do cartão de crédito chegam 150,59% ao ano.
Consequência para todos
“Taxas de juros muito altas têm um efeito de depressão sobre a economia”, acrescentou Deos, indicando que essas altas taxas enriquecem os bancos, mas prejudicam o desenvolvimento econômico do país como um todo.
“As pessoas podem pensar que, se os bancos têm resultados extraordinários, isso é bom para a economia. Mas a verdade é que não.”
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) foi procurada para comentar o lucro de seus filiados e sua relação com a situação econômica do país. A entidade não respondeu.