29/10/2024
Reproduzimos, a seguir, reportagem extraída do portal da TVT News.
Pesquisa realizada pela UFMT indica que mais de 90% dos peixes de 14 espécies que vivem em rios da Amazônia estão contaminados
Peixes pertencem a 14 espécies diferentes e foram coletados em 12 riachos. (Foto: divulgação/Inpa)
Mais de 90% dos peixes que habitam em rios da Amazônia estão contaminados com microplásticos, mostra o resultado da pesquisa Dos rios e mares à mesa: peixes contaminados, incluída no relatório Fragmentos da destruição: Impactos do plástico na biodiversidade marinha brasileira, publicado pela Oceana Brasil. Os microplásticos encontrados são compostos por partículas de polímeros plásticos como polietileno, polipropileno, polietileno tereftalato, poliestireno e cloreto de polivinila.
Com autoria da professora Danielle Regina Gomes Ribeiro-Brasil, docente do Laboratório de Ecologia e Conservação de Ecossistemas Aquáticos (Lecea), vinculado ao Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS) do Campus do Araguaia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), o artigo revela os resultados dos estudos que analisaram o trato gastrointestinal e as brânquias de 68 peixes pertencentes a 14 espécies coletados em 12 riachos, entre igarapés e córregos urbanos. Os resíduos plásticos estavam presentes nos órgãos de 67 dos 68 peixes analisados.
A pesquisa ainda afirma que a contaminação dos peixes ocorre pelo descarte de resíduos pelos centros urbanos no meio ambiente, visto que os peixes são infectados pela água ou por organismos que servem de alimento. Esse ciclo também pode impactar os seres humanos que consomem da mesma água ou dos peixes contaminados, como a população ribeirinha e as comunidades tradicionais que vivem por perto ou fazem uso dos riachos.
“As espécies estão contaminadas, e se a população consumir estes recursos dos riachos que estão contaminados, se contaminarão também. Já foi encontrado microplásticos no sangue, nos pulmões, na placenta, em vários órgãos, e recentemente no cérebro humano, possivelmente esta contaminação se deve da relação do ser humano com o ambiente em sua volta”, explicou Danielle em matéria da UFMT.
Outros dados do relatório apontam que 200 espécies marinhas foram registradas com ingestão de plástico no Brasil, além de 9 entre 10 espécies de peixes capturadas para consumo humano no mundo já terem se alimentado com resíduos plásticos.
O Brasil é o maior poluidor de plástico na América Latina e o 8º maior no mundo, uma vez que descarta 8% de todo o resíduo no oceano, o que equivale ao total de 1,3 milhão de toneladas por ano. Os resultados da pesquisa só evidenciam novamente a degradação do meio ambiente pelo homem, indo diretamente ao encontro de outros estudos que já identificaram microplásticos no sangue e no cérebro humano.
Uma pesquisa holandesa de 2022 detectou microplásticos em 17 de 22 amostras de sangue de doadores anônimos, todos adultos e saudáveis. No início do mesmo ano, outra pesquisa da USP identificou o resíduo em 13 de 20 tecidos pulmonares. Nos dois estudos, os tipos de plásticos mais encontrados foram o do polipropileno, do polietileno e o PET. O polipropileno é utilizado em garrafas, embalagens e outros objetos comuns e de fácil acesso, assim como o polietileno, muito usado em brinquedos e embalagens. Todos estes tipos soltam partículas que podem ser inaladas quando respiramos.
Nos resultados divulgados em setembro deste ano, a pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), com apoio da Unicamp e em parceria com a Universidade Livre de Berlim, encontrou microplásticos em 8 de 15 cérebros de indivíduos falecidos e residentes em São Paulo. Essas pessoas não tinham contato com a fabricação do material, o polipropileno, resíduo plástico mais encontrado no estudo.
O relatório publicado pela organização não governamental (ONG) Oceana Brasil, visa trazer informações acerca da poluição por microplásticos na biodiversidade marinha em esfera nacional. A obra traz oito artigos que englobam o impacto da presença dos microplásticos no oceano brasileiro, além de recomendações para o futuro. A publicação pode ser lida na íntegra neste link, disponibilizado pela instituição.