Vacinação baixa e mortalidade materna em alta são desafios na saúde para presidente eleito

10/10/2022

         A reportagem é da BBC News Brasil…
Enfermeira com máscara segurando seringa, com mapa do Brasil atrás
Brasil teve quedas bruscas na vacinação infantil nos últimos anos, um dos pontos de maior preocupação na área da saúde, segundo especialistas entrevistados

Independentemente de quem for escolhido no segundo turno pelos brasileiros para subir a rampa do Palácio do Planalto em janeiro de 2023, o próximo presidente do país encontrará, diante da mesa, situações preocupantes a lidar no que diz respeito à saúde — como uma queda drástica na vacinação de crianças, um orçamento para a área bem mais baixo do recomendado e um ministério remexido por uma grande alternância no comando nos últimos quatro anos.

De acordo com uma pesquisa do instituto Datafolha divulgada no início de setembro, a saúde é a área mais importante para os brasileiros na hora de definir seu voto para presidente, seguida da educação.

Por isso, a BBC News Brasil buscou dados e especialistas na área para avaliar quais serão os principais desafios na saúde a serem enfrentados pelo próximo presidente em um país onde a maioria da população depende unicamente do Sistema Único de Saúde (SUS) — apenas 25,6% da população tem planos de saúde, segundo dados de julho da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

A queda brusca da cobertura vacinal contra várias doenças, alvo de alertas disparados neste ano por instituições como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), foi um dos problemas mais urgentes apontados pelos entrevistados.

Vacina BCG. % da população-alvo coberta.  *Os dados de 2021 devem ser considerados parciais. .
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Por exemplo, a vacina BCG, que previne contra a tuberculose e tradicionalmente tem alta taxa de vacinação por ser aplicada no primeiro mês de vida do bebê, não tem 100% de cobertura desde 2015. Segundo números do DataSUS, a partir de 2020, a cobertura ficou abaixo de 80%: foi de 75,6% em 2020 e 70,7% em 2021 (entretanto, dados mais recentes, de 2021 e 2022, estão mais sujeitos a alterações, por isso são considerados parciais).

A imunização contra a poliomielite teve 100% de cobertura pela última vez em 2013. Desde 2016, ficou abaixo dos 90%, chegando a 76,1% em 2020 e a 69,9% em 2021. Com essa queda, a Opas colocou o Brasil como um dos países sob alto risco de volta da poliomielite.

Vacina contra a poliomielite. % da população-alvo coberta.  *Os dados de 2021 devem ser considerados parciais. .
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A tríplice viral D1, que previne contra o sarampo, caxumba e rubéola, também vem registrando constante diminuição, saindo da total cobertura em 2014 para 79,7% em 2020.

Vacina Tríplice Viral D1. % da população-alvo coberta.  *Os dados de 2021 devem ser considerados parciais. .
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“A gente não atingiu meta (de cobertura) em todas as vacinas. Já havia uma queda que se iniciou em 2015 e agora, durante a pandemia, se acentuou. A gente não tem um plano claro do governo federal atual para recuperação disso”, aponta o infectologista Julio Croda, da Fiocruz Mato Grosso do Sul.

“A gente sempre teve um Programa Nacional de Imunizações (PNI) muito forte. O que está acontecendo é grave, porque vacina é a principal intervenção custo-efetiva, é a que mais salva vidas do ponto de vista de intervenções na área de saúde.”

A diminuição da vacinação infantil é um fenômeno global recente, segundo a Unicef. Entretanto, para Croda, o governo federal falhou nos últimos anos em garantir sistemas de informatização adequados e uma comunicação que combatesse notícias falsas contra vacinas.

Essas falhas fazem parte de um quadro mais geral de desorganização do Ministério da Saúde durante o mandato de Jair Bolsonaro (PL), segundo Croda. Ele diz isso não apenas como especialista, mas também testemunha, já que foi, de 2019 a 2020, diretor do Departamento de Imunizações e Doenças Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) da pasta.

Bolsonaro teve em seu mandato quatro ministros da Saúde: Luiz Henrique Mandetta (União-MS), Nelson Teich, Eduardo Pazuello (PL-RJ) e Marcelo Queiroga, o atual titular. Comparando com outros presidentes desde a redemocratização, essa rotatividade de ministros é menor apenas do que na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que teve cinco, mas em dois mandatos.

O número de ministros de Bolsonaro é igual ao que teve em dois mandatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu oponente na eleição, e Fernando Collor (PTB), em seu curto período na Presidência antes de renunciar.

“É muito preocupante, porque, quando você tem uma troca muito constante, você não consegue implementar nenhum programa. Cada ministro que entra tem uma ideia diferente sobre o SUS, tem propostas diferentes, e essas propostas nunca são concluídas. A gestão fica uma colcha de retalhos, não tem começo, meio e fim”, diz Croda, que é presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical.

O infectologista critica ainda a falta de compromisso do governo atual com o conhecimento técnico em Saúde — apontando-a como o motivo para sua decisão de sair do ministério em 2020, primeiro ano da pandemia de coronavírus. A covid-19 matou mais de 685,9 mil brasileiros, oficialmente o segundo maior número absoluto no mundo, atrás dos Estados Unidos.

“Quando veio a pandemia, Bolsonaro não apoiou as medidas não farmacológicas de distanciamento, então, antes do Mandetta sair, eu saí. Entendi que não ia ter uma participação técnica, que o governo não ia seguir as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde)”, lembra Croda, acrescentando que a chegada da covid-19 e da varíola dos macacos mostraram que o Brasil está pouco preparado para possíveis pandemias e epidemias no futuro, o que exige, entre outras medidas, que o país aumente sua própria produção de itens de saúde.

“A gente não teve testes, depois as vacinas e, agora, medicamentos. A gente não tem o paxlovid, que é um remédio que já está sendo utilizado no mundo todo. Nós só temos uma vacina brasileira, que é a da Fiocruz, mas não tem nenhuma vacina de RNA. Agora, com a monkeypox (varíola dos macacos), a gente não tinha estoque estratégico de vacina de varíola. Até hoje, não temos disponível a vacina para ofertar à população.”

Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que “o enfrentamento à covid-19 no Brasil garantiu um dos resultados mais exitosos do mundo” e que o governo dedicou “R$ 106 bilhões em créditos extraordinários” exclusivamente para o combate à pandemia: “O governo federal garantiu a distribuição de mais de 518,8 milhões de doses de vacinas em uma das maiores campanhas de vacinação da história do país. O resultado da ampla campanha de imunização resulta hoje na cobertura vacinal de mais de 84,2% da população com ao menos a primeira dose da vacina. E 78% com duas doses”.

Quanto às outras vacinas destinadas às crianças e que estão com a cobertura reduzida, a pasta destacou ter o objetivo “de alcançar cobertura vacinal maior de 95%, além de reduzir o número de não vacinados” — afirmando que, para isso, tem divulgado sua campanha nacional de vacinação “nos principais meios de comunicação e em locais de grande circulação de pessoas” e reforçado a articulação com municípios e Estados.

Para ler a íntegra, na página da BBC, acesse o link abaixo. A reportagem tem sequência a partir do subtítulo Problemas básicos. e aborda  a questão da mortalidade materna.

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63069465

 

 

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