População brasileira cresceu 45 vezes em 200 anos, e envelhece em ‘ritmo asiático’
12/09/2022
A reportagem é da BBC News Brasil…
Segundo as previsões da ONU, o Brasil provavelmente ainda tem algumas décadas no atual primeiro bônus demográfico — ou seja, de um contingente grande de população jovem e economicamente ativa em relação ao grupo etário com mais inativos (como crianças e idosos).
Por volta da década de 2040, o grupo de pessoas de 15 a 64 anos alcançará seu pico e começará a cair.
A partir daí, quem vai crescer proporcionalmente é a faixa de brasileiros com mais de 60 anos.
O bônus demográfico dá a um país a oportunidade de aumentar a produção de bens e serviços.
No entanto, essa janela de oportunidade só ocorre uma vez na história de cada país, e dura entre 50 e 70 anos.
Segundo Diniz Alves, todos os países com altos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) conseguiram aproveitar essa janela para aumentar as taxas de riqueza e elevar seu padrão de bem-estar geral, melhorando os níveis educacionais da população e da tecnologia que permite o aumento da produtividade.
O Brasil deve chegar ao final do século 21 com uma proporção maior de pessoas dependentes em relação às que estão em idade produtiva. Isso deve ter um impacto importante na Previdência social, no sistema de saúde e no mercado de trabalho.
O fenômeno será mundial: em 2100, segundo as projeções da ONU, o mundo terá apenas 1,7 adulto de 20 a 59 anos para cada idoso de 60 anos ou mais, na média.
No Brasil, essa taxa deve ser ainda menor, de 1,1 adulto para cada idoso.
De um modo geral, o número de pessoas em cada grupo de idade do Brasil nas últimas décadas foi aumentando e diminuindo em ondas bem marcadas, que determinaram o bônus demográfico (veja no gráfico abaixo).
– O grupo de 0 a 19 anos foi de 51,6% da população brasileira em 1950 para 40,8% em 1999 e deve chegar a 2100 perfazendo apenas 17,6% da população do país.
– As pessoas entre 20 e 39 anos eram 29% da população em 1950, 32,5% em 2019 e serão 19,8% em 2100.
– O grupo de 40 a 59 anos correspondia a 14,5% da população em 1950, e deve chegar a seu pico em 2040, quando corresponderá a 28,5% do total do país. Em 2100, serão 22,6%.
– Já os idosos de 60 anos ou mais, que eram menos de 5% da população em 1950, vão crescer até 2075, quando serão 37,6% da população, ou 79,2 milhões de pessoas.
“A partir de 2076, o grupo de idosos começará a diminuir em termos absolutos para 72,4 milhões de pessoas em 2100. Ainda assim, em termos relativos, será o único grupo que continuará crescendo proporcionalmente, tornando-se 40,1% da população total em 2100”, explica Diniz Alves.
Enquanto isso, o primeiro bônus demográfico, iniciado em 1970, deve se encerrar por volta de 2040, ou talvez um pouco mais cedo.
“A fase em que a demografia oferece um estímulo à economia aproxima-se de seu fim”, diz o demógrafo.
2º e 3º bônus como alternativas para o crescimento
Esse fenômeno demográfico traz consigo a urgência de que o Brasil aproveite ao máximo as décadas restantes de alto contingente de jovens em idade produtiva.
Mas, se o país não conseguir usar essa janela para enriquecer e melhorar a qualidade de vida dos brasileiros, o que é possível fazer?
Segundo Diniz Alves, existem as possiblidades de um 2º e um 3º bônus, que acontecem de maneira independente das mudanças na estrutura etária da população.
Para conseguir o chamado 2º bônus, seria preciso elevar as taxas de poupança e investimento dos cidadãos para aumentar a produtividade econômica. É, por exemplo, algo que a China fez, desde os anos 1980, quando sua renda per capita era 17 vezes menor do que a do Brasil.
“Com altas taxas de poupança e investimento, a China garantiu um expressivo crescimento econômico nos últimos 40 anos. (…) Com uma renda per capita US$ 22,6 mil em 2022, a China já tem um rendimento médio 25% superior ao brasileiro e mantém taxas de poupança e investimento, respectivamente, acima de 40% do PIB (Produto Interno Bruto) na década de 2020”, escreve o demógrafo.
“O Brasil, ao contrário, não conseguiu superar as baixas taxas de poupança e investimento prevalecentes na década de 1980 (…) e chegou em 2022 com taxa de poupança de somente 17,4% do PIB e taxa de investimento de 18,7% do PIB”, compara.
“Não é de se estranhar que a renda per capita tenha apresentado variação muito pequena nos últimos 42 anos e que esteja estagnada na última década.”
Em casos em que o 1º e o 2º bônus não sejam bem aproveitados, um 3º bônus demográfico envolveria inserir a população idosa no mercado de trabalho, caso haja condições justas e favoráveis para fazê-lo.
O Brasil já tem um contingente crescente de idosos buscando a reinserção profissional, segundo dados de 2019 do Ministério da Economia. Mas, em um contexto de crise econômica, eles por enquanto têm ficado com os postos de trabalho mais precários.