Fogo queimou um quinto do território brasileiro em menos de quatro décadas

26/04/2023

Dados do Ipam indicam que, entre 1985 e 2022, 22% do país foi impactado por queimadas, área equivalente ao território somado de Colômbia e Chile…

A reportagem é do portal Rede Brasil Atual

Valter Campanato/Agência Brasil

Amazônia e Cerrado (foto) são os biomas que mais tiveram áreas queimadas nos últimos quase 40 anos

Entre 1985 e 2022, cerca de 22% da área total do território brasileiro passaram por queimadas, uma área equivalente à Colômbia e Chile juntos. É o que revelam os dados do MapBiomas Fogo, relatório do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) divulgado nesta quarta (26). O mapeamento contabilizou a extensão consumida pelas chamas no período a partir de imagens de satélite. A conclusão é que, nestes quase 38 anos, 1,857 milhão de quilômetros quadrados (km²) foram consumidos pelo fogo – a área total do país é de 8,510 milhões km².

Ou seja, o Brasil queimou, em média, 160 mil km² de vegetação a cada ano do período estudado. O número é equivalente a mais de três vezes e meia a área do estado do Rio de Janeiro (43,7 mil km²).

Usando imagens captadas por três satélites Landsat, foi rastreada a ação do fogo em todos os tipos de uso e cobertura da terra em território brasileiro. De acordo com os resultados, o Cerrado e a Amazônia foram os biomas mais atingidos, correspondendo a cerca de 86% da área queimada.

Impactados pelo fogo

O Cerrado queimou em média 79 mil km²/ano, diz o Ipam. A área é equivalente ao território da Escócia a cada ano. No caso da Amazônia, a média foi de 68 mil km²/ano. Quando se analisam as proporções das áreas atingidas dentro dos biomas, o Pantanal foi mais afetado: teve 51% de seu território consumido pelo fogo no período.

Segundo a análise, mais de dois terços (68,9%) das queimadas e dos incêndios ocorreram em vegetação nativa, embora a proporção varie entre os biomas. Campos e savanas, por exemplo, são tipos de vegetação nativa mais afetados, enquanto Amazônia e Mata Atlântica apresentaram maior incidência de fogo em áreas antrópicas, isto é, alteradas pelo ser humano, tais como zonas de pastagem.

Mato Grosso foi o estado que apresentou maior ocorrência de queimadas no período analisado, seguido por Pará e Maranhão. Já os municípios que mais queimaram no país foram Corumbá (MS), São Félix do Xingu (PA) e Formosa do Rio Preto (BA).

Causa e efeito

Os dados completos do mapeamento podem ser acessados gratuitamente na plataforma do MapBiomas.

O estudo contém recortes por frequência, bioma, estado, município, bacia hidrográfica, unidade de conservação, terra indígena, assentamentos e áreas com Cadastro Ambiental Rural (CAR). Este cadastro é um registro público obrigatório para todos os imóveis rurais e reúne informações para o planejamento ambiental e econômico e para o combate ao desmatamento.

O estudo difere de outros sobre queimas de biomas sobretudo por não contabilizar o número de focos de calor, mas sim a extensão consumida pelas chamas. O cálculo da média anual, por exemplo, considera várias áreas que queimaram no mesmo lugar durante o período.

“Com essa série histórica de dados de fogo, podemos entender o efeito do clima e da ação humana sobre as queimadas e os incêndios florestais”, afirma Ane Alencar, coordenadora do MapBiomas Fogo e diretora de Ciência do Ipam. O consórcio é formado por ONGs, universidades e empresas de tecnologia.

Frequência e intensidade devastadoras das queimadas

Segundo a pesquisadora, o fogo nem sempre é indesejável, mas a forma como tem ocorrido a queima de florestas no país é o que representa risco. “O fogo só é ruim quando é utilizado de forma inadequada e em biomas que não dependem do fogo para se manter, como a Amazônia. Em biomas como o Cerrado, o Pantanal, o Pampa, o fogo tem um papel ecológico e deve ser manejado de forma correta para não virar um agente de destruição”, explica.

Embora seja natural em alguns ecossistemas, os dados mostram que a frequência e a intensidade do fogo têm aumentado nos últimos anos no Brasil, devido ao desmatamento e às mudanças climáticas, que afetam as temperaturas e intensificam os períodos de seca.

“Para isso, as práticas relacionadas ao Manejo Integrado do Fogo (MIF) são importantes, pois elas podem, através das queimas prescritas e controladas, reduzir a quantidade de material combustível e evitar grandes incêndios”, completa Ane Alencar.

Com Agência Brasilg1 e Folha – Redação RBA: Fábio M Michel

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