Ernst Götsch: o agricultor suíço que ensina a ‘plantar água’ na Bahia

16/11/2021

Ernst GötschErnst Götsch se mudou para o Brasil nos anos 1980 interessado em avançar em pesquisas iniciadas na Suíça, seu país natal.

Uma pupunheira atrai uma multidão de pássaros japus à entrada de uma fazenda em Piraí do Norte, no sul da Bahia.

Ela foi a primeira da temporada a produzir um dos frutos mais apreciados pelo dono da propriedade, mas mesmo assim ele decidiu deixá-los para os pássaros.

“Não tenho coragem de tirar”, conta o suíço Ernst Götsch, de 73 anos, os últimos 40 naquele pedaço de chão. “Aqui cada pássaro é meu sócio”, completa.

A cena diz algo sobre a filosofia que tornou Götsch uma referência para muitos agricultores brasileiros.

Enquanto várias práticas agropecuárias são apontada como vilãs do clima, ele defende a adoção de sistemas agroflorestais, que combinam a produção de comida com a regeneração de florestas.

Enquanto secas intensas quebram safras país afora, ele ensina agricultores a “plantar água”, recuperando nascentes e fazendo com que suas plantações bombeiem mais água para a atmosfera.

E, no sistema dele, todos os seres — quer sejam humanos, animais silvestres ou microorganismos — têm papéis igualmente importantes.

“Eu plantei essa pupunheira, mas muitas outras na fazenda foram plantadas pelos japus”, explica Götsch. “Eles me ajudam, eu os ajudo.”

Ernst Götsch trabalhandoErnst Götsch poda árvores em sua agrofloresta em Piraí do Norte (BA).

Terra arrasada

Quando o suíço chegou ali, nos anos 1980, o cenário era outro. Quase todos os 510 hectares da propriedade haviam sido desmatados, e os animais silvestres eram raros.

Os donos anteriores passaram anos criando porcos e cultivando mandioca de forma convencional, o que esgotou o solo e assoreou 14 riachos que cruzavam a fazenda.

“Dentro de pouco menos de dois anos, eu tinha reflorestado tudo”, conta o suíço, que também viu todos os riachos renascerem no processo.

Hoje a maior parte da propriedade virou uma reserva ambiental privada, e somente 5 hectares — menos de 1% do terreno — lhe geram receitas.

É nessa área que, em meio a grande variedade de frutas, legumes e árvores imensas, ele cultiva um cacau de alto valor, exportado para Portugal.

Com tamanha oferta de alimentos, a família do suíço quase não precisa ir ao supermercado, e todas as construções da fazenda são feitas com madeira tirada dali.

A transformação que Götsch promoveu na fazenda chamou a atenção de governos, agricultores e empresas, que nas últimas décadas passaram a contratá-lo para consultorias.

Ele começou a rodar o Brasil dando cursos, e seus conhecimentos alcançaram entidades tão díspares quanto o Grupo Pão de Açúcar e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) (leia mais abaixo).

Cacau em agrofloresta
Cacau cultivado na agrofloresta de Ernst Götsch é exportado para Portugal.
Para ler a íntegra, que aborda os subtítulos abaixo relacionados, clique no link disponibilizado ao final.   

A chegada ao Brasil

‘Água se planta’

Ópera e trabalho intenso

Contra a Revolução Verde

‘Agricultura sintrópica’

Capim africano e eucalipto

Trabalhos no exterior

Trabalho com multinacionais

Movimento global

Ribeirinhos e indígenas

Reflorestar desertos

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-59269706

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