22/12/2020
Publicado em 1903, o livro “O povo do abismo – Fome e miséria no coração do império britânico: uma reportagem do início do século XX”, do jornalista estadunidense Jack London, retrata a miserabilidade vivida por cerca de 500 mil trabalhadores e sem-teto na região de Londres conhecida como East End, onde vivia a metade mais da população no início do século 20. A narrativa poderia, no entanto, dizer respeito também à situação vivida por milhões de trabalhadores brasileiros que vivem à margem do desenvolvimento econômico e social, uma realidade agravada pela pandemia de covid-19.
Do abismo, Jack London descreveu parte da população como “os miseráveis, os humilhados, os esquecidos, todos morrendo no matadouro social. Os frutos da prostituição – prostituição de homens, mulheres e crianças, de carne e osso, e fulgor e espírito; enfim, os frutos da prostituição do trabalho”.
Segundo Maria Sílvia Betti, autora da prefácio da obra e professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), é possível fazer uma relação entre o tema tratado pelo livro e a realidade brasileira a partir do “enorme número de desabrigados e desempregados”.
“O que Jack London encontra quando chega no coração do Império Britânico é um imenso bolsão de miséria, fome e pessoas absolutamente marginalizadas e excluídas. Isso é o que nós temos aqui: a realidade da exploração do trabalho e, por outro lado, da exclusão e da miséria”, afirma Betti.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal (PNAD Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no dia 27 de novembro, o desemprego alcançou a taxa recorde de 14,6% no trimestre encerrado em setembro desde que o órgão iniciou a série histórica, em 2012. Em termos absolutos, 14,1 milhões de pessoas estão na fila do emprego em São Paulo.
Outro estudo, realizado entre junho de 2017 e julho de 2018, também do IBGE, mostrou que o Brasil atingiu 10,3 milhões de pessoas sem acesso regular à alimentação básica, com um aumento de três milhões no contingente em cinco anos. É como se parte da população brasileira vivesse sob as mesmas condições do povo de abismo de Jack London.
A reportagem é do portal Brasil de Fato. Acesse o link abaixo, para ler a íntegra.