27/08/2024
Reproduzimos, a seguir, a análise do jornalista Esmael de Morais (*)
Em um editorial neste domingo (25/8), a Folha de S.Paulo posicionou-se de maneira contundente a favor da privatização de três das maiores empresas estatais do Brasil: Petrobras, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil. O jornal argumenta que essas privatizações são essenciais para a modernização do país, sustentando que o modelo estatal é ineficiente, suscetível a interferências políticas e um entrave ao desenvolvimento econômico.
No entanto, essa visão, comumente propagada por setores que defendem o neoliberalismo e a desregulamentação da economia, ignora o papel estratégico que essas empresas desempenham como motores do crescimento econômico e indutores de políticas públicas que beneficiam a população brasileira como um todo.
Historicamente, o Estado desempenhou um papel central no desenvolvimento econômico do Brasil, especialmente durante a segunda metade do século XX. Na década de 1980, enquanto o país se destacava no cenário internacional, adotava-se o capitalismo de Estado como uma estratégia para fomentar o crescimento da indústria nacional e a diversificação da economia. Essa estratégia foi fundamental para transformar o Brasil em uma das maiores economias do mundo, à frente de países que hoje compõem os chamados Tigres Asiáticos.
Empresas como Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal foram pilares essenciais nessa estratégia, atuando não apenas como empresas lucrativas, mas também como instrumentos de políticas públicas que geraram empregos, expandiram o crédito e promoveram o desenvolvimento de infraestrutura em todo o território nacional.
Ao longo dos últimos 30 anos, com a adoção de políticas neoliberais que privilegiaram a privatização e a desregulamentação dos mercados, o Brasil tem experimentado um processo acelerado de desindustrialização. Grandes setores da indústria nacional foram sucateados ou transferidos para o exterior, resultando em um aumento do desemprego estrutural e na perda do poder de compra dos trabalhadores brasileiros.
A privatização de empresas estatais como a Vale e a Embraer, frequentemente citadas pela Folha como casos de sucesso, trouxe lucros consideráveis para acionistas e especuladores, mas ao custo de uma redução drástica nos investimentos em inovação e desenvolvimento tecnológico dentro do Brasil. Hoje, a economia brasileira é mais dependente da exportação de commodities e menos capaz de gerar empregos de alta qualidade e valor agregado.
As estatais que a Folha propõe privatizar não são meras empresas: elas são instrumentos estratégicos de política econômica e social. A Petrobras, por exemplo, não é apenas uma empresa de petróleo; ela é a principal responsável pela exploração e desenvolvimento das riquezas do pré-sal, uma das maiores reservas de petróleo do mundo, que ainda guarda potencial para transformar o Brasil em uma potência energética global.
A Caixa Econômica Federal, por sua vez, é o principal banco social do Brasil, responsável pela gestão do FGTS, programas habitacionais como o Minha Casa, Minha Vida, e a distribuição do Auxílio Emergencial durante a pandemia de COVID-19. Privatizar a Caixa significaria submeter esses programas ao interesse de acionistas, que priorizam o lucro sobre o bem-estar social.
O Banco do Brasil, por fim, é um dos maiores bancos do país, desempenhando um papel fundamental no financiamento da agricultura, especialmente da agricultura familiar e do agronegócio. A privatização do Banco do Brasil poderia comprometer o acesso ao crédito em condições favoráveis para milhões de pequenos agricultores que dependem desse suporte para sustentar suas atividades.
A defesa da privatização pela Folha não é isenta de interesses. Vale lembrar que o jornal faz parte do Grupo Folha, que inclui o PagBank, uma das maiores empresas de pagamentos online e serviços financeiros do Brasil. O grupo, como outros bancos e fundos de investimento, tem interesse direto na privatização dessas estatais, pois vê nelas uma oportunidade de remuneração rápida e alta para seus acionistas.
É fundamental entender que a privatização de empresas estratégicas como Petrobras, Caixa e Banco do Brasil não beneficia a população como um todo, mas sim especuladores financeiros que buscam maximizar seus lucros no curto prazo, sem se preocupar com as consequências sociais e econômicas de longo prazo.
Privatizar a Petrobras, a Caixa e o Banco do Brasil seria um retrocesso para o Brasil, comprometendo a soberania nacional, a capacidade de promover o desenvolvimento econômico sustentável e a justiça social. Essas empresas são mais do que negócios lucrativos; são ferramentas estratégicas do Estado para garantir que o crescimento econômico seja inclusivo, que os recursos naturais sejam explorados de maneira sustentável e que todos os brasileiros tenham acesso a serviços essenciais, como crédito e habitação.
Defender o papel do Estado como indutor do crescimento econômico e as empresas públicas como investidores estratégicos que geram empregos e renda é defender o futuro do Brasil. A privatização, como defendida pela Folha, atende apenas aos interesses de um pequeno grupo de especuladores e deve ser firmemente rejeitada.
(*) Jornalista e Advogado, Esmael de Morais é autor do Blog do Esmael.
O editorial da Folha de São Paulo recebeu críticas da presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Neiva Ribeiro. Em artigo publicado pelo site TVT news, Neiva Ribeiro alerta e afirma que “a grande imprensa está a serviço do rentismo”. Confira no link abaixo.
O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) também rebateu enfaticamente o editorial da Folha; em suas redes sociais, o deputado classificou a ideia como: “Ótima estratégia para destruir o país”. Para conferir a manifestação do deputado Orlando Silva, acione o link abaixo.