23/02/2016
Empréstimo consignado é espada de dois gumes. Oferece juros abaixo do mercado e ajuda muito na hora do grande aperto, mas, como é sedutor demais para os aposentados, a grande insistência dos bancos leva idosos e seus familiares a exagerar na dose, encalacrando-se com o excesso de empréstimos. Muitas vezes, não pensam no tamanho do rombo que os juros causarão na renda mensal…
Semana passada, recebi e-mail de uma leitora recém-aposentada, indignada com a abordagem violenta dos bancos ao oferecer o tal empréstimo:
“Entrei com o pedido de aposentadoria pela regra 85/95 na manhã de 6 de janeiro deste ano. Como o INSS ainda estava atendendo trabalhadores afetados pela greve de funcionários do segundo semestre do ano passado, apesar de ter marcado para as 10h30 só fui atendida quase ao meio-dia. O senhor foi supereficiente, saí de lá oficialmente aposentada e até com alguns meses em atraso para receber dali a 15 dias. Até aí, tudo bem.
A indignação só veio quando, saindo da agência do INSS, pisei no passeio da Rua Guaicurus e fui literalmente assediada por um rapaz com colete com a marca do Banco Santander. “Senhora, vamos fazer um empréstimo consignado, com juros baixinhos e pagamento a perder de vista?” – essa foi a essência da conversa dele. Respondi que não tinha interesse, mas ele insistiu, até dizer-lhe, de cara feia, que graças a Deus não estava precisando de empréstimo naquele momento.
Na hora, fiquei com pena do aposentado, que conquista a merecida pensão depois de anos de labuta. A maioria não consegue pagar as despesas do mês. A possibilidade de arranjar um dinheirinho a mais para a farmácia, com essa facilidade, é algo a se pensar. Na empolgação do momento, sem ter noção do custo do empréstimo a longo prazo, ele cai em tentação.
O pior é que o assédio não dá trégua. Vira e mexe recebo telefonemas (tanto no fixo quanto no celular) de centrais de telemarketing de bancos variados oferecendo consignados pré-aprovados, que levariam uns 10 meses para pagar com o que recebo de aposentadoria. Isso, com a quantia mensal total, sem gastar nem um centavinho com outra finalidade. Hoje, foi a vez de o Itaú entoar o canto da sereia.
A única explicação para o assédio repentino é que me aposentei há pouco e o INSS, um órgão federal, repassa periodicamente aos bancos esse tipo de informação. Um absurdo! Não por acaso, entra crise sai crise, entra governo sai governo, as instituições bancárias continuam dando lucro (e muito!) no Brasil.
Do jeito que as coisas vão, só nos resta torcer para que não haja outro aumento do limite para o crédito consignado para aposentados, como aquele sancionado em outubro do ano passado. Aliás, ele já estava valendo na prática, por medida provisória: ao limite de 30%, que vigorava antes, foram acrescidos 5%, reservados ao pagamento de cartão de crédito.
Vale lembrar: em 2014, o INSS havia tornado a arapuca ainda mais tentadora para quem já está com o orçamento comprometido, passando o parcelamento máximo do empréstimo de 60 prestações (ou cinco anos) para 72 (seis anos). Pobre do aposentado. Como o consignado é lucro certo para o banco, pois as parcelas são descontadas diretamente da pensão, não é dado ao cidadão nem sequer o direito de buscar empréstimo quando realmente precisa. É muito fácil pôr as mãos nesse dinheiro, difícil é pagá-lo depois.”
Um dado importante, que poucos aposentados conhecem: o Decreto 6.386/08 regulamenta o artigo 45 da Lei 8.112/90, que fixa em 30% o limite de desconto nos recebimentos do servidor da parcela do empréstimo consignado na folha de pagamento. Se o valor descontado for maior, o cidadão pode entrar na Justiça. Vários aposentados ganharam essa causa. Fique de olho.
(Fonte: Izabela Teixeira da Costa – Estado de Minas)