22/12/2025
Reproduzimos, a seguir, artigo produzido pelo diretor-presidente da Abrapp, Devanir Silva, para o portal capitalaberto.com.br *
A discussão sobre equidade e diversidade ganhou força no mundo institucional porque deixou de ser tratada como pauta acessória. Hoje, integra o núcleo das decisões de negócios, influencia reputações e molda a capacidade de organizações se manterem relevantes. Empresas privadas, órgãos públicos e instituições financeiras compreendem que representatividade não apenas melhora o ambiente de trabalho, mas fortalece processos decisórios, reduz riscos e amplia legitimidade. Em mercados maduros, investidores já tratam diversidade como elemento de governança, avaliando se organizações dão espaço real a diferentes vozes, trajetórias e grupos sociais. No Brasil, onde desigualdades estruturais ainda determinam acesso a oportunidades, esse debate é especialmente urgente — e os fundos de pensão, pela escala e impacto social que possuem, tornaram-se agentes centrais desse avanço.
As entidades fechadas de previdência complementar administram mais de R$ 1 trilhão e protegem o futuro financeiro de milhões de trabalhadores. Por serem investidores de longo prazo e instituições com forte vínculo social, passaram a assumir compromissos crescentes com diversidade, tanto internamente quanto na relação com participantes e no próprio processo de investimento. No âmbito interno, observa-se maior presença de mulheres, pessoas negras, jovens e profissionais de formações diversas em conselhos, diretorias e comitês. Também se ampliam políticas de igualdade de oportunidades, ações de combate ao assédio e programas de conscientização sobre vieses inconscientes. Embora o ritmo ainda possa evoluir, já há consenso de que equipes pluralizadas produzem análises mais robustas, aperfeiçoam a governança e reforçam a confiança dos participantes.
A relação com o público também vem mudando. As entidades reconhecem que mulheres ainda são minoria entre participantes ativos, apesar de serem maioria entre pensionistas — sinal claro das barreiras enfrentadas ao longo da vida laboral e da maior vulnerabilidade financeira na velhice. Por isso, cresce o esforço para tornar a comunicação mais inclusiva, acessível e segmentada, com iniciativas de educação previdenciária que considerem diferentes faixas etárias, perfis profissionais e realidades socioeconômicas. Expandir o entendimento sobre previdência complementar é, nesse sentido, uma política essencial de redução de desigualdades.
Outro movimento relevante aparece na gestão de investimentos. Fundos de pensão passaram a incorporar critérios ligados à equidade e diversidade na análise de empresas investidas, observando a composição de conselhos, a existência de políticas de igualdade salarial, ações afirmativas e a transparência no reporte de indicadores de gênero e raça. O uso do voto em assembleias e o diálogo direto com companhias vêm sendo empregados para incentivar boas práticas, enquanto gestores de recursos são chamados a demonstrar o compromisso de suas próprias equipes com diversidade. A agenda ESG, já consolidada no setor, passa agora a incluir uma camada social mais clara e estruturada.
O setor também aprofunda o debate sobre inclusão previdenciária: como atrair mais mulheres, jovens e trabalhadores de baixa renda, que historicamente tiveram menos acesso aos planos de previdência complementar? Essa discussão vem estimulando programas específicos de educação, revisões de regulamentos e iniciativas de sensibilização voltadas à redução de barreiras de entrada. Grandes entidades lideram esse processo e influenciam positivamente o conjunto do sistema.
Para avançar, será fundamental ampliar a coleta e divulgação de indicadores, estabelecer metas claras de diversidade, integrar critérios sociais nas políticas de investimento e voto, desenvolver programas contínuos de formação, incentivar empresas comprometidas com práticas inclusivas e fortalecer a cooperação entre entidades. A equidade e a diversidade, quando tratadas de forma estruturada, são instrumentos poderosos para reduzir desigualdades históricas e melhorar a resiliência das carteiras no longo prazo.
O desafio é transformar compromissos em resultados. Mas o caminho está traçado: ao aderirem a essa agenda, os fundos de pensão reforçam sua responsabilidade social, ampliam a confiança dos participantes e tornam a previdência complementar um vetor cada vez mais efetivo de inclusão e justiça social.
* Devanir Silva é diretor-presidente da Abrapp (2025–2027), atua no setor de previdência complementar desde 1981. É autor dos livros Fundos de Pensão e a Abrapp: História de Lutas e Vitórias (Editora Abrapp, 2014) e Ressignificar a Previdência: O Novo Ciclo de Transformação e Expansão da Abrapp e dos Fundos de Pensão (Editora Abrapp, 2025), além de representar a entidade na Organização Ibero-americana de Seguridade Social