Artigo em defesa dos bancos públicos (Sindicato dos Bancários do Ceará)

01/04/2022

Reproduzimos, a seguir, artigo de autoria do presidente do Sindicato dos Bancários do Ceará, Carlos Eduardo, publicado na edição nº 1701 da Tribuna Bancária, em defesa dos bancos públicos…

Nós, do movimento sindical bancário, estamos muito preocupados com o uso político dos bancos públicos, sobretudo Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.

Além de segurar a concessão de crédito para estados comandados por adversários políticos de Bolsonaro, o Banco do Brasil empresta milhões para estados e municípios, liderados por apoiadores do presidente, sem cobrar garantias em caso de inadimplência. Esses fatos foram destaques, na semana passada, em matérias dos jornais Folha de S. Paulo e O Globo.

Em outubro do ano passado, matéria publicada na revista Veja trouxe uma ação ajuizada no Ministério Público Eleitoral, contra o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, apontando uso de recursos e canais de comunicação do banco para promoção política pessoal e propaganda eleitoral, além de indícios de tráfico de influência. A denúncia cita ainda dezenas de viagens realizadas por Guimarães por meio da estrutura do banco – várias delas acompanhado de Bolsonaro – e a veiculação de fotos dessas agendas em meios oficiais de divulgação da Caixa. Inicialmente apresentada ao Tribunal de Contas da União, a ação foi reencaminhada ao TSE e ao MPE pelos ministros da Corte, que entenderam haver evidências de possível campanha política antecipada.

A Revista Crusoé denunciou em outra matéria que o senador Flávio Bolsonaro seria o responsável pelo direcionamento de mais de R$ 50 milhões [de um total de R$ 87,5 milhões] que a Caixa investiu em patrocínios, entre janeiro e agosto deste ano. Já Michelle Bolsonaro tem como foco beneficiar Organizações Não-Governamentais (ONGs) ligadas a igrejas evangélicas. Segundo a revista, uma associação beneficente [“Criança Cidadã”] recebeu dois aportes do banco público: um de R$ 1,75 milhão, em 2019, e outro de R$ 2,2 milhões em abril de 2021.

Já entre os estados prejudicados pelo BB, por serem liderados por adversários políticos de Bolsonaro, está Alagoas, que recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para concessão de crédito depois que o BB abandonou as negociações sem maiores justificativas. Matéria da Folha de S. Paulo conta ainda que a Bahia, governada pelo petista Rui Costa, também teve suas operações de crédito paralisadas pelo banco. O estado, agora, tem cobrado do BB “tratamento isonômico” em relação aos demais entes federativos. Outra reportagem, do jornal O Globo, mostrou que, em 2021, o BB emprestou R$ 5,35 bilhões para estados liderados por políticos de partidos que compõe a base parlamentar do governo federal no Congresso. Entre os que encabeçaram a lista de beneficiados estão o Paraná, governado por Ratinho Júnior (PSD), com R$ 1,4 bilhão, e o Amazonas, comandando por Wilson Lima (PSC), com outros R$ 1,1 bilhão.

A Caixa Econômica Federal é um banco público centenário e não pode ser transformada em balcão de negócios para beneficiar um grupo de políticos ou um governo. O Banco do Brasil, assim como a Caixa, é fundamental para a economia do país. Não podemos permitir que a ingerência política coloque em risco o equilíbrio desses instrumentos que deveriam estar contribuindo para a retomada do desenvolvimento e não para agradar parceiros políticos de Bolsonaro.

Nós, trabalhadores de bancos públicos, não podemos tolerar o mau uso e o enfraquecimento do patrimônio do povo brasileiro. A Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil precisam seguir sendo de todos, públicos e essenciais para o desenvolvimento do país. Não podemos deixar que um mau governo coloque em risco a credibilidade dessas instituições, nem de seus funcionários.

(Artigo de Carlos Eduardo, presidente do Sindicato dos Bancários do Ceará)

 

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