Jeffrey Frankel, professor de Harvard, atuou anteriormente no comitê do National Bureau of Economic Research, o grupo de acadêmicos encarregado de fazer a declaração oficial de recessão. Ele disse não acreditar que o país passava por uma recessão no início do ano, observando o forte crescimento do emprego. Mas depois desse período ficou menos confiante.
Na quarta-feira, o banco central dos EUA respondeu ao problema com outro aumento incomumente grande em sua taxa de juros, seu segundo aumento de 0,75 ponto percentual desde que começou a elevar as taxas em março.
Ao tornar os custos dos empréstimos mais caros, o Federal Reserve espera reduzir os gastos com itens como casas e carros, em teoria aliviando algumas das pressões que elevam os preços. Mas a menor demanda também significa um declínio na atividade econômica.
O mercado de ações dos EUA despencou desde o início do ano e empresas como a gigante Meta, proprietária do Facebook e Instagram, e a montadora General Motors disseram que planejam desacelerar as contratações. Algumas outras empresas, especialmente do setor imobiliário, anunciaram cortes de vagas.
Uma economia frágil?
Sasan Kasravi perdeu seu emprego em junho. Ele trabalhava como professor de oratória na região da baía de São Francisco, na Califórnia.
Aos 31 anos, ele disse que não está pessoalmente preocupado com enfrentar um longo período de desemprego. Mas suas visões sobre a economia americana são pessimistas, consistentes com pesquisas que mostram que menos de 15% dos americanos descrevem as condições econômicas nos EUA como boas.
“Acho que todo mundo está meio que esperando que a pandemia passe, que a guerra na Ucrânia se acalme, mas isso não vai resolver nenhuma das falhas sistêmicas inerentes”, diz ele, citando altos custos de moradia, dívidas estudantis e bolhas especulativas em setores como o das criptomoedas.
“[A economia] parece estar sendo sustentada por algo frágil e todos nós ficamos nos questionando se é isso que tem feito ela despencar.”
O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, disse nesta semana que não acredita que a economia dos EUA esteja em recessão, mas disse que há desaceleração e que é provável que seja necessário mais para que a inflação volte a níveis normais.
O quão severa será a desaceleração prevista ainda é tópico de debates acalorados.
“A última vez que vimos uma inflação tão alta, na década de 1980, tivemos uma recessão bastante profunda”, disse Laura Veldkamp, professora de finanças da Universidade Columbia. Segundo ela, os formuladores de políticas públicas aprenderam com essa experiência, aumentando as esperanças de uma desaceleração mais branda.
Mas as desacelerações na China e na Europa, que foram mais afetadas pelo aumento nos preços da energia causados pela guerra na Ucrânia, aumentam os riscos exteriores. Os EUA também não estão sozinhos no aumento das taxas de juros.
“Muitos outros países têm problemas mais sérios… e muito provavelmente serão atingidos e isso pode se espalhar até nós”, diz Frankel.
Segundo o professor de Harvard, é importante considerar fatores como o mercado de trabalho para determinar o início de uma recessão.
Ele nota que algumas das desacelerações registradas no passado – como o estouro da bolha das empresas de internet em 2001 – não se qualificariam como recessões segundo a regra que considera tal cenário apenas em caso de dois trimestres seguidos de contração, apesar dos muitos empregos perdidos na época.
As estimativas de produção na economia americana geralmente são atualizadas significativamente à medida que mais dados são contabilizados. Mesmo no Reino Unido, há casos de recessões sendo revistas.
A política, acrescentou Frankel, não tem nada a ver com isso, pelo menos historicamente.
“Todo macroeconomista experiente sabe que a recessão nos EUA não é definida por uma regra mecânica”, disse Frankel. “Mas, dada a polarização da política, há pessoas que serão cínicas e imaginarão o pior.”