20/11/2025
Reproduzimos, a seguir, reportagem da editoria de cultura do portal TVT News *
“Carolina – Quarto de Despejo” quer recuperar legado da escritora ao focar no apagamento histórico que marcou sua vida
A adaptação cinematográfica de Quarto de Despejo, obra clássica de Carolina Maria de Jesus, entrou em fase de produção e começou a ser rodado em 1º de novembro no Rio de Janeiro, onde está sendo construída uma grande recriação da favela do Canindé dos anos 1950. A obra recebeu o nome provisório de Carolina – Quarto de Despejo.

Maria Gal viverá Carolina Maria de Jesus em filme biográfico. Foto: Mariana Vianna/Divulgação
Dirigido por Jeferson De (M8 e Doutor Gama) e protagonizado por Maria Gal, o filme é fruto de um projeto que levou 11 anos para sair do papel. Gal, que detém os direitos de adaptação e também é produtora do longa, passou por um processo intenso de preparação: perdeu mais de 18 quilos, mudou o cabelo e treinou durante um ano com profissionais no Brasil e nos Estados Unidos para interpretar Carolina com precisão e profundidade.
A equipe criativa faz questão de enfatizar que o filme nasce de olhares negros: de Maria Gal, mulher negra e retinta, e de Jeferson De, um dos grandes diretores negros do país. A proposta é romper com décadas de apagamento simbólico e histórico da autora, frequentemente lembrada apenas por imagens que reforçam a pobreza, ignorando seu impacto intelectual e sua relevância literária.
Para Gal, levar Carolina ao cinema é uma obrigação cidadã. A atriz compara a pouca familiaridade do público com Carolina à ampla popularidade de autoras como Clarice Lispector: essa disparidade demonstra a urgência do filme: “Carolina ainda merece ser reconhecida como uma grande heroína”.
Nascida em 1914 em Sacramento, Minas Gerais, Carolina Maria de Jesus teve apenas dois anos de educação formal. Morando na favela do Canindé e trabalhando como catadora de lixo, registrou entre 1955 e 1960 um diário que revelava, com lirismo e crueza, a rotina da fome, do racismo estrutural e da desigualdade.
Descoberta pelo jornalista Audálio Dantas, Carolina transformou-se em um fenômeno literário. Seu livro vendeu mais de um milhão de exemplares, com estimativas que apontam para mais de três milhões apenas desse título, que foi traduzido para até 14 idiomas e tornou-se best-seller em 11 países. Ela é considerada a primeira escritora negra brasileira a conquistar projeção internacional. Em 2026, será também enredo da escola de samba Unidos da Tijuca.

Carolina Maria de Jesus. Foto: Reprodução
O longa reúne três produtoras, Move Maria, Raccord Produções e Buda Filmes, além da coprodução da Globo Filmes e distribuição da Elo Studios. A Move Maria, fundada por Maria Gal, liderou a captação de recursos com apoio de empresas privadas. O elenco conta ainda com Raphael Logam, Clayton Nascimento, Fábio Assunção, Liza Del Dala, Carla Cristina Cardoso, Ju Colombo, Jack Berraquero, Alan Rocha, Thawan Lucas e Caio Manhante, entre outros nomes.
A adaptação pretende ir além da biografia e explorar como Carolina transformou dor em arte, criando um dos retratos sociais mais contundentes do século 20. O filme também deve questionar a imagem cristalizada da autora, frequentemente representada com lenço e roupas gastas, ignorando momentos em que apareceu bem vestida após o sucesso de seu livro.
* Elaborado com informações do gshow e assessoria, informa o portal TVT News.