Em vez de simplesmente refutar a hipótese Saindo da África, Ahlberg diz que está trabalhando com a possibilidade de que nossos ancestrais possam ter se espalhado para a Europa antes do que acreditamos atualmente.
Em 2017, mesmo ano em que o primeiro artigo sobre as pegadas de Trachilos foi publicado, a paleontóloga e professora alemã Madelaine Bohme, da Universidade de Tübingen, ganhou as manchetes por conta própria. Ela anunciou que a descoberta do “último ancestral comum” de humanos e chimpanzés não foi encontrado na África, mas na Europa.
Bohme e uma equipe de pesquisadores afirmaram que a criatura, batizada de Graecopithecus, viveu na região dos Bálcãs há 7,18 e 7,25 milhões de anos, portanto mais velha que o Sahelanthropus, atualmente considerado o mais antigo ancestral humano a andar ereto.
Até o momento, os restos de Graecopithecus consistem em um único dente e uma mandíbula, esta última encontrada na Grécia, a 250 km de Creta.
“Nossas investigações não desafiam a história da evolução humana depois de 5 milhões de anos atrás, mas o que aconteceu antes disso”, argumenta Bohme.
Ceticismo e ciência
A polêmica provocada pelas pegadas de Trachilos também suscitou debate sobre como os cientistas lidam com uma hipótese fora da curva.
Apesar de suas hesitações sobre as pegadas de Trachilos, Robin Crompton, da Universidade de Liverpool, é inflexível ao afirmar que a rejeição como rastros de hominídeos por outros especialistas não ajuda em nada para o estudo das origens da humanidade.
“Eles deveriam ser investigados, e não simplesmente descartados. Cientistas precisam manter a mente aberta”, disse ele.
Madelaine Bohme concorda, observando que houve mudanças de dimensão sísmica nas teorias sobre as origens da humanidade.
A hipótese da África, por exemplo, não se tornou imediatamente aceita pela maioria dos especialistas quando os restos mortais de uma criança conhecida como a Criança Taung, que viveu há 2,8 milhões de anos, foram encontrados na África do Sul em 1924. “Houve épocas na história em que se acreditava que a humanidade poderia ter se originado em diferentes partes do mundo, e não na África.”
Para ela, “ciência sem ceticismo não é boa ciência, mas as pessoas precisam estar abertas a discussões. E sim, precisamos de mais investigação e mais descobertas, mas ver colegas simplesmente descartando nossas descobertas é algo totalmente diferente”.
Per Ahlberg, ligado ao estudo das pegadas de Creta, parece estar particularmente irritado com críticas de outros especialistas. “Isso ocorre só porque as pessoas estão desesperadamente apegadas à ideia da teoria Saindo da África que nossas reivindicações são vistas dessa forma”, afirma ele. “Nesse sentido, não estou preocupado com o que a comunidade paleontológica dirá agora. Apresentamos as evidências e apresentamos a defesa de nossa descoberta.”
Para ele, “lutar contra a incredulidade das pessoas francamente é desinteressante”.