05/09/2025
Reproduzimos, a seguir, reportagem publicada pelo portal Brasil de Fato, neste Dia da Amazônia.
Os defensores da Amazônia vivem sob ameaça no Brasil
A indigenista e ambientalista Neidinha Suruí gostaria de morar em uma casa sem portas. As ameaças, no entanto, a obrigam a viver entre muros altos, com cercas elétricas e câmeras de vigilância.
“A minha casa virou uma prisão”, lamenta Ivaneide Bandeira, a Neidinha, uma das 1.468 pessoas sob monitoramento do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH), do Ministério dos Direitos Humanos (MDH), criado para garantir segurança e prestar apoio às pessoas que vivem sob ameaça. “Eu nunca gostei de porta fechada, porque eu fui criada a minha infância inteira morando embaixo de um tapiri. Tapiri não tem parede, tapiri não tem porta”, diz.
Por dedicar a vida a defender a floresta e os povos que vivem nela, pessoas como Neidinha se tornam alvo de ameaças, agressões e tentativas de homicídio. Muitas, perdem a vida. Em 2024, o PPDDH completou 20 anos de existência. Nesse período, 21 defensores sob proteção foram assassinados. Atualmente, sete pessoas vivem sob proteção de escolta armadas, nos estados de Roraima, Pará e Bahia.
De acordo com o MDH, do total de pessoas cadastradas no programa, 72,69% atuam em áreas rurais e muitos são lideranças lideranças ambientalistas.
É o caso de Neidinha, que há mais de 50 anos luta pela demarcação de terras indígenas e pela proteção da floresta Amazônica, em Rondônia, onde 29 pessoas foram assassinadas em conflitos agrários entre 2021 e 2024, segundo dados dos relatórios no campo da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
“Os defensores são um bando de malucos e malucas”, diz Neidinha, que já sofreu desde ameaças indiretas, feitas por telefonema, até invasões na sua casa. “Mas são malucos e malucas do bem, que se doam para que o mundo inteiro possa ter uma floresta que garanta que tu vai respirar bem, que tu vai ter um clima bom, que a tua agricultura vai funcionar”, diz.
Por acreditar tanto no que faz, em 1992 ela participou da fundação da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, que trabalha pela proteção de mais de 50 povos indígenas, entre eles os Uru-eu-wau-wau, que sofrem com invasão das suas terras e outras violências graves. Em 2021, o professor e ativista Ari Uru-eu-wau-wau foi assassinado naquela área. Ele fazia a fiscalização do território e vinha sofrendo ameaças de madeireiros.
Fiscalização da Funai no território dos Uru-Eu-Wau-Wau | Arquivo/Funai
“Defensores e defensoras morreram defendendo a Amazônia”, lamenta a ambientalista. “Morreu Uru-eu-wau-wau, que é da gente. Morreu a irmã Dorothy [a missionária Dorothy Stang, assassinada em Anapu, no Pará], morreu Chico Mendes, morreu Paulino Guajajara”, enumera.
A lista é longa, e nela entram o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips, assassinados em 2022 na região do Vale do Javari, no Amazonas; o ambientalista José Gomes, o Zé do Lago, morto ao lado da sua companheira Márcia Nunes Lisboa e da enteada Joane Nunes Lisboa, naquele mesmo ano, em São Félix do Xingu, no Pará; os 10 trabalhadores sem-terra vítimas da chacina de Pau D’Arco, ocorrida em 2017, e a única testemunha ocular do episódio, o trabalhador rural Fernando Araújo dos Santos, que seria morto em 2021; e tantos outros nomes que fazem do Brasil o segundo país mais perigoso para os defensores ambientais, atrás apenas da Colômbia, de acordo com um levantamento da Ong Global Witness, de 2023.
Os dados da CPT dão dimensão da gravidade de se defender a floresta e as comunidades tradicionais por aqui: entre 2021 e 2024, 126 pessoas foram assassinadas em conflitos no campo.
O primeiro ataque grave contra Neidinha aconteceu em 1996, perto da terra indígena dos Uru-eu-wau-wau, durante um trabalho de resgate de indígenas de uma fazenda. “Eles viviam lá semi-escravizados e a gente estava montando a aldeia ainda”, conta.
Acompanhada de um amigo, a ambientalista saía da área da aldeia Alto Jamari, um espaço em construção naquela época, quando teve o carro cercado por homens armados. “Os invasores fecharam e atiraram em nós”, lembra. Eles aceleraram o carro e conseguiram escapar da emboscada.
Ainda hoje, 30 anos depois do episódio, as ameaças continuam. Neidinha já teve a casa invadida por homens armados que apontaram armas para a sua filha, a liderança indígena Txai Suruí, e perdeu as contas de quantos telefonemas anônimos recebeu. As intimidações e recados chegam a todo momento.
“Tu vai no banco, aí do nada alguém que tu nunca viu encosta a mão no teu ombro e fala: “Ei, tu tem muita coragem, né? Tu fala um monte de coisa… Tu não tem medo de morrer, não?”, diz.
Para ler a reportagem na íntegra, acione o link abaixo: