Knut Dahl-Jørgensen, consultor de endocrinologia pediátrica e diabete do Centro de Pesquisa de Diabete de Oslo, afirmou à BBC que seus colegas estão iniciando um teste clínico para observar se o tratamento antiviral pode ajudar a proteger o pâncreas em crianças recém-diagnosticadas com diabete tipo 1.
Chen também lidera um projeto que envolve a seleção, entre uma grande biblioteca de diferentes compostos químicos, de algum composto que possa tornar as células beta mais resistentes a ataques virais.
Até o momento, eles já identificaram um composto específico, chamado trans-ISRIB, que aparentemente é capaz de proteger as capacidades de produção de insulina de células beta quando infectadas com Sars-CoV-2 em uma placa de Petri. Embora ele ainda não seja aprovado pelos órgãos reguladores, nem testado em seres humanos – e, portanto, ainda não pode ser utilizado em pacientes com covid-19 com níveis anormais de açúcar no sangue – Chen espera que ele possa ser administrado no futuro como medicamento preventivo para indivíduos vulneráveis após a infecção.
A forte ligação entre a covid-19 e diferentes condições autoimunes poderá também incentivar o desenvolvimento de vacinas protetoras contra outros vírus que foram associados anteriormente a essas doenças. Pesquisadores do Instituto Karolinska, na Suécia, e das Universidades de Tampere e de Jyväskylä, na Finlândia, desenvolveram uma possível vacina que protege contra todas as seis linhagens de Coxsackie B e, segundo foi demonstrado, evita que camundongos desenvolvam diabete tipo 1 induzida por vírus.
Gunnar Houen, imunologista do Instituto Estatal do Soro de Copenhague, na Dinamarca, acredita que isso também levará a aumento dos investimentos em vacinas contra Epstein-Barr, um vírus que foi associado ao desenvolvimento de artrite reumatoide e esclerose múltipla, além de certos tipos de câncer.
“As vacinas muito provavelmente são eficazes contra Epstein-Barr se forem administradas suficientemente cedo, pois a maioria das pessoas é infectada por esse vírus durante o primeiro ou o segundo ano de vida”, afirma Houen. “Haverá um mercado para isso, pois as doenças associadas causam danos iguais ou maiores que a covid-19.”
Ao mesmo tempo, os cientistas esperam que, nos próximos meses e anos, surgirão mais informações sobre a possibilidade de a covid-19 desencadear cada uma dessas doenças.
“Essas questões não serão todas respondidas amanhã, nem nos próximos dois meses, mas, ao longo do próximo ano, esperamos poder analisar esses dados e começar a responder algumas perguntas, observar alguns padrões e talvez tenhamos algumas respostas”, segundo afirma Francesco Rubino.
Leia a íntegra desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.