01/12/2025
Reproduzimos, a seguir, reportagem extraída do portal da TVT News.
O ano de 2025 também marca os 120 anos de nascimento do escritor gaúcho, um dos maiores romancistas modernos do país
Na última sexta-feira, 28/11, foram lembrados os 50 anos da morte do escritor Erico Lopes Verissimo, um dos nomes mais decisivos da literatura brasileira do século 20 e verdadeiro marco na consolidação do romance moderno no país. Sua obra atravessa gerações e continua viva, refletida em exposições, homenagens e na presença constante de seus livros nas prateleiras de bibliotecas, escolas e lares Brasil afora.
Nascido em 17 de dezembro de 1905, em Cruz Alta (Rio Grande do Sul), Verissimo cresceu em uma família que perdeu bens e prestígio, o que o levou a abandonar os estudos para trabalhar — primeiro como balconista em armazém e farmácia, depois no Banco Nacional do Comércio. Lentamente, a paixão pelos livros e pelas letras se impôs. Ainda jovem, lia autores brasileiros e estrangeiros clássicos, e mantinha uma “revista” improvisada onde desenhava e escrevia pequenas notas.
Em 1930, decidiu migrar para Porto Alegre para viver da escrita — uma decisão que mudaria o rumo da literatura brasileira. Chegou à capital gaúcha num momento de efervescência cultural e literária. Foi contratado pela revista “Revista do Globo”, onde logo se tornaria editor, abrindo caminho para uma carreira de sucesso.

Com O Tempo e o Vento, Verissimo projetou o Sul do Brasil no mapa literário. Foto: Divulgação/GOVRS
Em 1932, publicou sua primeira obra — a coletânea de contos Fantoches — mas foi com o romance Clarissa, lançado em 1933, que Verissimo conquistou os primeiros leitores de modo contundente. O livro, que retrata a vida de uma jovem que sai do interior para viver na capital, dialogava com o crescente protagonismo da classe média urbana — o “novo Brasil” que nascia.
Nos anos seguintes, ele publicaria outros títulos importantes: Caminhos Cruzados, Música ao Longe, Um Lugar ao Sol, entre outros — romances que ajudaram a moldar aquela que pode ser chamada de “fase urbana” de sua carreira.
Já em 1938, publicou Olhai os Lírios do Campo, que representou sua consagração definitiva. O sucesso foi imediato — tanto de crítica quanto de público — e o romance seria traduzido para diversos idiomas, estabelecendo Verissimo como um dos mais populares autores brasileiros.
Se suas primeiras obras exploravam a vida urbana e as transformações da classe média, a partir de 1949 Verissimo inaugurou sua fase mais ambiciosa: a histórica. Começou a publicar O Tempo e o Vento, uma saga em três partes — “O Continente”, “O Retrato” e “O Arquipélago” — que atravessa gerações e narra a formação do Rio Grande do Sul, refletindo lutas, amor, política, migrações, disputas e transformações sociais.
Essa trilogia é considerada uma das maiores realizações da literatura brasileira. Sua densidade histórica e humana, a amplitude de personagens e contextos, e a capacidade de captar a alma de um povo fizeram de Verissimo um autor capaz de projetar o Sul do Brasil no mapa literário nacional — e internacional.
Nos anos 1960 e início dos 1970, Verissimo continuou a expandir sua obra. Em 1965, lançou O Senhor Embaixador, ganhador do prêmio mais importante do país, o Prêmio Jabuti, como melhor romance — e obra emblemática de crítica política e geopolítica latino-americana.
Em 1971 publicou Incidente em Antares, um romance inovador que mistura realismo e fantasia: em uma greve de coveiros, na fictícia cidade de Antares, corpos enterrados retornam para protestar — uma metáfora potente sobre injustiça, poder e memória.
Além disso, trabalhou em sua autobiografia — a série Solo de Clarineta — cujo primeiro volume saiu em 1973. No momento de sua morte, em 1975, ele reconhecidamente trabalhava no segundo volume da obra.
Ao longo de sua carreira, Verissimo foi amplamente premiado e reconhecido — não apenas no Brasil, mas no exterior. Ele recebeu o prestigiado Prêmio Machado de Assis já em 1934, por Música ao Longe, e depois novamente em 1954, pela totalidade de sua obra. Em 1944, ganhou o título de Doutor Honoris Causa do Mills College, na Califórnia.
Suas obras foram traduzidas para dezenas de idiomas — do alemão ao japonês, do russo ao italiano — e chegaram a leitores em diversos continentes. A força de sua prosa, a amplitude de seus temas e a empatia com personagens que atravessam a vida comum fizeram de Verissimo um nome indispensável da literatura universal.
Na cidade de Porto Alegre, o Memorial Erico Verissimo (MEV), instalado no Espaço Força e Luz, abriu, em 2025, uma nova exposição com material mediativo, organizada para aproximar o público — de jovens a idosos — da vida e da obra do escritor, marcando também os 120 anos de nascimento do escritor. São manuscritos, documentos, correspondências e objetos que revelam os bastidores de suas criações.
Verissimo conquistou um grande feito: conseguiu falar de transformações sociais, de classe média, de sonhos, de ambições e de conflitos — com leveza, elegância, humanidade. Em seus romances, o Brasil se revela em construção, em mudança de mãos, em disputa por identidade, mobilidade social, raízes e caminhos. Isso fez com que suas histórias permanecessem universais, atravessando décadas, mesmo após 50 anos de sua morte.
Além disso, sua heterogeneidade — romances urbanos, históricos, sociais, políticos, fantásticos — garante que leitores diferentes encontrem nos livros dele ecos de suas vivências, dúvidas e anseios. São narrativas capazes de emocionar pela densidade dos personagens, pela honestidade das escolhas, pela coragem de retratar a realidade.