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Cora Coralina, Poesia
Cora Coralina, o coração da literatura no Brasil

11/04/2025

Reportagem do portal TVT News celebra a poesia e do legado literário de Cora Coralina, quando o Brasil relembra os 40 anos da morte da poetisa, ocorrida no dia 10 de abril de 1985.

Figura importante da literatura, viveu muitos dos principais momentos da história brasileira e foi amiga de Carlos Drummond de Andrade.

Cora Coralina se tornou símbolo de cultura em um estado que tenta se reduzir ao sertanejo. Foto: Museu Cora Coralina/Reprodução

Aos 40 anos de morte de Cora Coralina, o portal TVT News explica a história de vida da poeta que nasceu ainda no Império e viu a posse de José Sarney que simbolizou a redemocratização após a ditadura militar de 1964 a 1985. Aqui também se encontram três poemas escritos pela goiana e informações sobre o Museu Cora Coralina, localizado na cidade de Goiás.

Um dos poucos símbolos da cultura goiana exportado para todo o país e para o mundo, a poeta Cora Coralina, nasceu e viveu grande parte da vida no coração do país, escreveu sobre o ruralismo, sobre a vida, sobre ser mulher, sobre o trabalho, sobre o simples e o complexo, em uma grande autobiografia em forma de poesia.

Quem foi Cora Coralina?

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Cora Coralina viveu na cidade de Goiás, que atualmente tem 22 mil habitantes. Foto: Museu Cora Coralina/Reprodução

A querida Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, que mais tarde se torna Cora Coralina, nasceu nos últimos três meses do Império brasileiro, no dia 20 de agosto de 1889. E morreu, aos 95 anos, em 10 de abril de 1985. Nesta quinta-feira (10/4) são lembrados os 40 anos dasua morte.

Ela era filha de Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto, desembargador nomeado por D. Pedro II, e de dona Jacyntha Luiza do Couto Brandão. Ou seja, sua família teve contato direto com as políticas imperialistas.

Anna viveu grandes momentos de transições políticas e sociais no Brasil. Na infância, Cora Coralina viu a escravidão desaparecer lentamente, a escravatura foi abolida oficialmente um ano antes de seu nascimento, mas os impactos não foram imediatos e até hoje a sociedade lida com os resquícios dos mais de 300 anos de escravidão.

Viu, ainda que não se lembre por ser recém nascida, o regime imperial cair e a República surgir.

Ela nasceu na cidade de Goiás, na época capital do estado e hoje conhecida como Goiás Velho. O local foi um centro de efervescência cultural e econômico da região, devido ao garimpo de ouro durante o período imperial. Ainda assim, o município é pequeno, ruas estreitas feitas de pedras, calmaria no ar e vendas de doces. Em pesquisa mais recente do IBGE, Goiás Velho tem apenas 22 mil habitantes.

Goiás, minha cidade…
Eu sou aquela amorosa
de tuas ruas estreitas,
curtas,
indecisas,
entrando,
saindo
uma das outras.
Eu sou aquela menina feia da ponte da Lapa.
Eu sou Aninha.

– Cora Coralina em Minha Cidade

Ela começou os estudos na escola Mestre Silvina; sua professora também havia sido docente da mãe de Cora Coralina. Mas por ser mulher precisou abandonar a formação na terceira série do primário. Na época, a família também tinha se mudado para uma fazenda mais afastada.

O problema foi contornado pela mãe, dona Jacyntha, que era uma mulher muito culta, escrevia e falava outros idiomas, entre eles o francês. A mãe fez com que Anna estudasse em casa e, assim, criou carinho pela literatura.

Amiga pessoal da poeta e diretora do Museu Cora Coralina, Marlene Vellasco conta que depois da morte do pai, a situação financeira da família ficou difícil, mas a literatura resistiu: “ela esperava na porteira da fazenda os livros do Gabinete Literário que chegavam em carro de boi”. Cora Coralina foi uma leitora voraz e aprendeu a escrever pela literatura”.

Em 1899, aos 14 anos, começou a escrever os primeiros textos que seriam publicados mais tarde em jornais da cidade de Goiânia — inaugurada em 1933 e que se tornou capital em 1942.

No início da juventude da vida adulta, Cora vai para São Paulo com o advogado Cantídio Tolentino de Figueiredo Bretas, com quem viveu por 24 anos até a morte dele. Com Cantídio, Cora teve seis filhos: Paraguassu Amaryllis, Enéias, Cantídio, Jacyntha, Ísis e Vicência. Enéias e Ísis faleceram antes dos seis meses de vida.

Goiás Velho. Foto: Museu Cora Coralina/Reprodução

Ficou no estado de São Paulo por 45 anos, retornando para Goiás em 1956. Primeiro, passou anos em Jabuticabal criando os seus filhos. Em 1924, ela se mudou para a capital paulista. Na primeira semana na terra da garoa, Cora Coralina teve que ficar presa em um hotel em frente à Estação da Luz.

Na respectiva data, a cidade estava em um cenário de guerra civil pela Revolta Paulista, que fez parte do movimento tenentista. A Primeira Guerra Mundial já tinha começado e terminado. A Semana de Arte Moderna também havia acontecido e Cora Coralina não havia sido convidada, ela já tinha alguns textos publicados em periódicos, mas nenhum livro.

Nesse período em que morou na capital paulista, a casa de Cora ficava na mesma rua em que morava o escritor Monteiro Lobato — fortemente criticado atualmente, pelo teor racista das obras. Na época, irreverente, os filhos de Cora e de Monteiro se tornaram amigos.

“Ela sempre viveu nesse mundo intelectual, participou de encontro de escritores, criou o jornal A Rosa em 1907, com amigos, e foi muito à frente do seu tempo. Cora foi uma mulher que rompeu todas as barreiras”, afirma Vellasco.

Depois, Cora Coralina viu o filho Cantídio participar da revolução constitucionalista em 1932, liderada por Getúlio Vargas. A própria poeta se alistou como enfermeira e costureira de uniformes.

Três anos depois, o marido Cantídio Tolentino de Figueiredo Bretas faleceu. Para sobreviver, ela passou a vender livros pela Editora José Olympio e foi colaboradora do jornal O Estado de S. Paulo. Com o tempo, retornou para o interior do estado paulista, em Penápolis, onde produziu e vendeu linguiça caseira e banha de porco.

A diretora do museu define Cora Coralina como trabalhadora, que sempre esteve ativa, na produção de poemas, cuidando da família e vendendo o que fosse necessário para ter renda. Um dos produtos que também lhe deu fama foram os doces cristalizados, passas, glaceados.

Uma das especialidades era o alfenim feito de açúcar, água e limão ou vinagre, que é modelado em formas de animais, flores, pessoas e outros objetos.

Nessa fase, Cora completa 50 anos. A marca da idade lhe resultou vários momentos de transformação em que mais tarde descreveu como “a perda do medo”. Ela então decidiu atender pelo pseudônimo e abandonar o nome de batismo.

Em 1956, Cora Coralina, aos 67 anos, retorna sozinha para a cidade de Goiás, onde nasceu e viveu; cidade onde os doces se tornaram típicos da região.

Eu sou aquela mulher
que ficou velha,
esquecida,
nos teus larguinhos e nos teus becos tristes,
contando estórias,
fazendo adivinhação.
Cantando teu passado.
Cantando teu futuro.

– Cora Coralina em Minha Cidade

As casas, as ruas, as pedras, o relevo, o cerrado e a cidade de Goiás foi inspiração para os poemas. Foto: Museu Cora Coralina/Reprodução

Quase uma década depois de retornar para a terra natal, aos 75 anos da poeta, o primeiro livro foi publicado oficialmente: Poemas dos Becos de Goiás e estórias mais, pela Editora José Olympio, a mesma que Cora vendeu livros após a morte do marido. A publicação aconteceu no primeiro ano da ditadura militar. A obra completa 60 anos de circulação em 2025.

Em vida lançou mais dois livros: Meu Livro de Cordel (1976) e Vintém de Cobre – Meias Confissões de Aninha (1983).

Para ler a íntegra, e conferir como a poesia de Cora Coralina se tornou conhecida (e reconhecida) nacionalmente, acione o link abaixo:

https://tvtnews.com.br/cora-coralina-o-coracao-da-literatura-no-brasil/

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