16/12/2024
Reproduzimos, a seguir, matéria publicada pelo site da TVT News.
Guia para entender o livro Cem Anos de Solidão, uma das obras mais importantes da história da literatura
Cem Anos de Solidão é o livro em espanhol mais importante desde Don Quixote. Foto: Vitória Machado / TVT News
Você já leu Cem Anos de Solidão? Conseguiu caminhar pelas histórias e nomes que se repetem? Veja, com a TVT News, este guia para entender o livro Cem Anos de Solidão, maior obra de Gabriel García Márquez e que ganha adaptação para as telas com a série da Netflix.
Cem Anos de Solidão narra a história da família Buendía em torno da cidade de Macondo. O período da história dura cerca de cem anos. O livro foi escrito pelo escritor colombiano Gabriel García Márquez, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1982, vendeu mais de 50 milhões de cópias e foi traduzido para 40 idiomas.
Para o Doutor em Comunicação e Semiótica, jornalista Rinaldo Gama, no prefácio da 48ª edição do romance, o colombiano Gabriel García Márquez é o último grande contador de histórias do século XX — e, até prova em contrário, da própria literatura ocidental”.
O escritor colombiano Conrado Zuluaga, editor da coletânea A Caminho de Macondo, que reúne as publicações que antecederam Cem Anos de Solidão, o romance que foi “concebido por um autor que parecia tocado pelos deuses, [e] foi considerado, já a partir da primeira edição, como um dos maiores romances em língua espanhola desde Dom Quixote”.
A história da família Buendía em Macondo durante cem anos. Este parece ser um enredo simples para uma das obras mais geniais da Literatura mundial, tanto pela qualidade estética e primor na escolha das palavras e da narração, como pelas várias interpretações que o livro desperta.
O livro tem 20 capítulos e começa com a genial construção do momento em que o Coronel Aureliano Buendía, um dos principais personagens da trama, está diante do pelotão de fuzilamento, o que iria acontecer, cronologicamente, do primeiro para o segundo terço da história. Ao mesmo tempo, o narrador transporta o leitor para o começo da família Buendía, já instalada em Macondo.
“Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo.”
Esta forma de narrar, em que os acontecimentos vão e voltam estão ao longo do livro e prende a atenção do leitor. Os capítulos se apresentam espelhados. Os dez primeiros partem de um Buendía para a criação da grande família. Dos capítulos 11 ao 20, esses Buendías todos vão acabar no último, que é levado pelas formigas.
A carpintaria de García Márquez na narração da saga dos Buendía pode ser notada na seleção das palavras, nas figuras e nas construções carregadas de sinestesias. Entre muitos, é possível sentir o cheiro dos cadáveres, das flores e do quarto de Melquíades (o autor dos pergaminhos escritos numa linguagem que ninguém conhece e que faz do ato de decifrá-los um desafio para vários Buendía).
A cada página, o leitor sente tanto o calor abrasador e carregado de poeira de Macondo, como a umidade lamacenta das chuvas bíblicas (ou macondianas).
Macondo e Cem Anos de Solidão: metáfora da América Latina
Procure Macondo nos mapas e Atlas e não encontrará. A cidade não existe, a não ser no imaginário dos milhões de leitores de Gabriel García Márquez. Inspirada na cidade colombiana de Aracataca, onde nasceu o escritor, Macondo é a cidade em que se passam os eventos do livro.
Chamada no livro de cidade dos espelhos, é varrida do mapa por um vento cataclísmico depois de ter sido destruída por uma chuva de quatro anos , onze meses e dois dias.
“pois estava previsto que a cidade dos espelhos (ou das miragens) seria arrasada pelo vento e desterrada da memória dos homens no instante em que Aureliano Babilônia acabasse de decifrar os pergaminhos e que tudo o que estava escrito neles era irrepetível desde sempre e por todo o sempre, porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda oportunidade sobre a terra”,
É esse fim trágico de Macondo e de toda a estirpe dos Buendía que permite a analogia com a história da América Latina.
Há passagens explícitas, como a chegada da Companhia Bananeira, referência à multinacional latifundiária estadunidense United Fruit Co., que explorou a mão de obra latino-americana. Em Cem Anos de Solidão, depois de não querer negociar com os trabalhadores em greve, a Companhia Bananeira promove o massacre dos trabalhadores e os atira ao mar.
“José Arcádio Segundo conversava com Aureliano no quarto de Melquíades e sem que viesse ao caso disse:
— Lembra-te sempre de que eram mais de três mil e que os jogaram ao mar. Em seguida caiu de bruços sobre os pergaminhos e morreu com os olhos abertos.”As passagens do livro são baseadas nas memórias de Gabo. O escritor colombiano sempre disse que ele só reproduziu as histórias que seus avós lhe contavam. Gabo viveu até os oito anos com os avós maternos.
Porém, é possível fazer um paralelo entre a sucessão de fatos que se repetem (assim como os nomes repetidos) com a história da América Latina.
Nos mais de quinhentos anos, a América Latina sofreu vários ciclos em que as tentativas de emancipação ou as ações para caminhar pelas próprias pernas foram sabotadas e destruídas. Foi assim com a invasão dos colonizadores, com o fracasso da união latino-americana pós lutas de independência, com os golpes contra governos nacionalistas que buscavam a industrialização, com as ditaduras militares. São os ciclos pelos quais passou (e ainda passa) a América Latina. São quinhentos anos de golpes, invasões e repressões. São quinhentos anos de solidão. Tal qual Macondo, tal qual a família Buendía durante os cem anos.
Assim como Macondo foi varrida do mapa, porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não mereciam uma segunda oportunidade sobre a terra, a América Latina parecia condenada a não ter uma segunda oportunidade sobre a terra.
Por que os nomes se repetem em Cem Anos de Solidão?
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https://tvtnews.com.br/cem-anos-de-solidao-e-historia-da-america-latina/