08/11/2024
Reproduzimos, a seguir, reportagem produzida pelo Diário do Nordeste.
Seja numa xícara de café ou num bom feijão verde – ambos apreciados pelo cearense – há a presença do ácido clorogênico. Essa substância foi analisada por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) como potencial de reduzir déficits de memória, sendo um dos possíveis caminhos para o tratamento contra a doença de Alzheimer.
Os detalhes foram reunidos no artigo “Efeito Neuroprotetor do Ácido Clorogênico em um Modelo Animal da Doença de Alzheimer Esporádica Induzida por Estreptozotocina”, publicado pela revista internacional Molecular Neurobiology, em junho deste ano.
A iniciativa recebeu ainda menção honrosa no 48º Congresso da Sociedade Brasileira de Imunologia, em setembro deste ano, em Fortaleza.
O ácido clorogênico é um polifenol, em outras palavras, um composto presente em plantas e frutas, com três importantes efeitos: ação neuroprotetora, antioxidante e anti-inflamatória. A substância também está presente na casca da maçã e da pera e no agrião, por exemplo.
A partir dessa evidência, a ideia dos pesquisadores foi avaliar se o ácido clorogênico tem o potencial de diminuir os efeitos da doença de Alzheimer. “Nós testamos quatro tipos de memória e o ácido melhora todos”, resume Geanne Matos de Andrade, professora do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da Famed.
O primeiro passo foi induzir os sintomas da doença em camundongos para iniciar o tratamento com a substância. Entre os resultados, o grupo registrou uma proteção contra a morte de neurônios dos camundongos e a diminuição da neuroinflamação causada pela doença.
Também foi notado o aumento do Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro (BDFN, na sigla em inglês). Essa é uma proteína importante para o desenvolvimento, crescimento e manutenção dos neurônios.
O estudo foi feito com a substância isolada – inclusive já usada comercialmente como termogênico conhecido como café verde.
“O café verde é o que tem mais ácido, porque conforme vai torrando o grão vai perdendo a substância”, exemplifica sobre a substância mais usada nos lares brasileiros.
Mas um dos pontos centrais do estudo é mostrar que a alimentação adequada e a prática de exercícios físicos protegem o cérebro. Isso porque há uma relação, por exemplo, entre a diabetes e o Alzheimer.
“Quando a pessoa fica idosa, muitos médicos tiram o café por causa da gastrite e pra não perder o sono, mas alguns estudos mostram que quem mais toma café diminui as doenças de demência”, acrescenta Geanne.
Geanne explica que não há perspectiva do uso da substância como medicamento. “Tem que fazer mais estudos, mas são muito difíceis porque a doença vai progredindo e precisamos acompanhar os pacientes por muitos anos e isso é muito caro”, contextualiza.
O estudo faz parte da tese de doutorado em Farmacologia produzida pela pesquisadora Jéssica Rabelo Bezerra. Também assinam o artigo as cientistas da UFC Tyciane de Souza Nascimento, Juliete Tavares, Mayara Sandrielly Soares de Aguiar e Maiara Virgínia Viana Maia.
Para a realização do estudo, camundongos suíços machos receberam injeções de estreptozotocina nos ventrículos cerebrais, o que causa alterações bioquímicas e fisiopatológicas semelhantes à doença de Alzheimer.
Esse procedimento induz déficits na memória aversiva, de reconhecimento e espacial, mas a substância aliviou de forma significativa essas falhas no tratamento feito com o ácido por mais de 20 dias. A simulação seguiu os princípios éticos do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal.
Com o fim do tratamento, as pesquisadoras avaliaram os movimentos exploratórios, a memória aversiva e espacial e a capacidade de reconhecimento de novos objetos dos animais que tiveram prejuízos nos três tipos de memória.